quinta-feira, abril 30, 2009

Hoje fui intimado a falar de amor. Que sei eu de tema tão controverso? Não posso fazê-lo. Mas não deixarei você sem uma história.

ELE imaginou todo um roteiro que lhe permitisse não cometer erros e assim, quem sabe, ser capaz de demonstrar que a merecia.

Esperou que ELA saísse do trabalho, no ponto de ônibus. Essa era a abertura do primeiro ato.

A cena seguinte seria falar sobre quaisquer assuntos até que chegasse o ônibus. Não se importou que durante a espera, duas viagens ocorreram. Não tinha pressa de chegar em casa. Não, aquele era o dia!

Tantas pessoas vindo e indo e ELE ali, sem desculpa para não embarcar.

ELA caminhou tranquilamente trazendo um livro. Primeiro empecilho no roteiro: ELE não poderia atrapalhar a leitura ou, pior, ELA não queria falar com ninguém nesse trajeto.

Primeiro ponto positivo: o ônibus não demorou. ELA subiu e sentou-se muito à frente. Segundo empecilho: não havia nenhum lugar vazio próximo para ELE.

O Diretor enlouquecia. Nada saia como estava no roteiro.

ELE fechou o pequeno caderno que levava e decidiu interromper a cena.

Segundo ponto positivo: um lugar na fileira de cadeiras ao lado vagou. Não havia tempo a perder. Seriam menos de dez minutos para o ponto final. o pano cairia. Ao público só restaria vaiar, aos críticos, condenar atores, diretor e até ao coitado do motorista que tinha horário a cumprir.

Retomou o roteiro e disse a "enorme" frase de abertura do segundo ato: "Oi!"

A resposta não foi a planejada e, portanto, como seguir adiante.

Não temeu. Emendou uma coisa sem sentido em outra e chegaram juntos ao final da viagem.

A cena prosseguiu. Caminharam até a casa d'ELA e o Iluminador caprichara num sol de quarenta graus à sombra.

- Um pouco de água?

- Pode ser.

Espera, silêncio, dúvida, angústia...

- Tem suco de abacaxi.

- Meu preferido.

- Meu também. Vou buscar. Melhor, almoça comigo?

ELA devorou com rapidez leopardina.

- A primeira vez é pra aplacar a fome; agora, pra sentir o sabor.

ELA, linda: cabelos lisos e negros, sombrancelhas fartas bem desenhadas; um sutil batom há pouco habitara aquela boca.

- Preciso ir. Obrigado!

- De nada. Aparece.

Temeu. Desapareceu.

Agora a viu novamente. Como Dorian Gray parece que o tempo não lhe afeta. Alçou voos tão altos que a miopia intelectual, financeira e moral d'ELE não lhe permitem enxergá-la. Brilha com um quase sorriso e aquele sutil batom está lá. Cabelo mais curto a torturar com a nuca à mostra.

O roteiro fracassou. ELE ficou lá, no ponto de ônibus. Quem sabe ELA venha de livro na mão.

Se você a encontrar por aí, não dê uma segunda olhadela. Ciúmes? Não!

ELA encanta ao primeiro olhar, inflama ao segundo e, ao terceiro, é amada eternamente. Sim, ELE a ama em silêncio há 22 anos!

A essa altura você merece saber quem são ELES. O nome d'ELE você verá algumas linhas abaixo. O d'ELA...

"Só a alguns é que tal graça se consente".

quarta-feira, abril 29, 2009

Por quê?

Quando penso que já aprendi o suficiente...

Imaginei que tinha - depois de tanta gente falar a mesma coisa, adoecido pra enxergar o mundo de outra maneira.

Não sei ao certo como é agora, mas dizem que, nos "tempos do meu pai", nascido quase no século retrasado, na escola tinha uma história de apanhar quando não se fazia a lição corretamente.

Tô fora! Quando não sei de uma tarefa tento aprender. Nunca pude concordar com a idéia de que só o sofrimento traz sabedoria. Quero aprender com alegria! Deve ser por isso que só se vai à escola obrigatoriamente; ninguém tem prazer dentro desses espaços cada vez mais bonitos arquitetonicamente, e mais grotescos em relacionamento humano.

Daí, ficar procurando explicações porque aluno entra armado na escola é discussão sobre o sexo dos anjos - que aliás, não se sabe qual é, mas deve ser masculino. Calma, mulheres de plantão! Eu explico. No Gênesis, aquele livro que é o primeiro da Bíblia, se você não está familiarizado, diz que os anjos olharam do céu e viram a beleza das filhas dos homens e, descendo à Terra, com elas "deitaram" e tiveram filhos. Não diz que veio nenhuma "anja".

Me perguntei qual a razão de não poder fazer mais certas coisas que gostava: tomar cerveja, comer uma carne mais gordurosa, passar a noite toda pelos bares e outras coisas relacionadas,. Parar de fazer tudo isso ia me ensinar. O quê!? A ler, escrever, conversar, observar, amar?

Passei os últimos 40 anos da minha vida amando. Tudo bem que não era lá esse amor romântico que algumas pessoas acreditam, mas era o meu jeito de amar. Continuo amando: da primeira à mais recente pessoa que conheco.

Quer saber? Pra eu aprender alguma coisa, leio, vejo o rio, observo as pessoas passando, como, bebo, descubro que o incêndio ajuda a renovar a floresta de eucalipto, que somos 25 milhões de habitantes na Amazônia, que tem gente estúpida e gente hipócrita - como diz Gilberto Gil.

Precisa de doença pra aprender? Qual é?

Mas, já que é assim... Vou ali fazer um teste no hospital e já volto.


Escuridão








Tudo não passa de imaginação. Então é preciso saber o que se pode fazer com o mundo que insiste em ser real.



Marcia Tiburi