quarta-feira, abril 21, 2010

O reencontro com ELA

Aguardei por mais de duas horas. Na entrada do prédio, uma recepção com um funcionário gigantesco, uma mistura de Recepcionista com Leão de Chácara, me dera a informação de que ELA ainda não chegara. Sentei-me num sofá próximo dali e observei o vai e vem de muitas pessoas vestidas todas como personagens de filmes hollywoodianos antes do haapy hour. A cada cinco minutos, o Recepcionista/Leão de Chácara me lançava um olhar assustador como se, a um descuido seu, fosse invadir os corredores do prédio enorme. Minha vontade era dizer-lhe: "Ainda estou aqui. Não há nada aí dentro que me interesse". Pensei em agradecer e ir aguardar à porta do prédio, mas não era tão simples assim. Para se entrar, vindo a pé, era necessário passar pela porta que utilizei; e se se chegasse de carro, da garagem tinha-se que usar um elevador que viria até esta mesma recepção. De sorte, que todos têm que passar pelo Recepcionista/Leão de Chácara. À frente do sofá havia uma mesa pequena, em uma madeira muito bonita e enegrecida que não sei dizer qual é - apesar de haver nascido na Amazônia desconheço os detalhes das riquezas que ela possui. Na mesa, muitas revistas que falam sobre dados técnicos financeiros e não serviram para me distrair da ansiedade. A porta do elevador da garagem não se calava e, a cada palavra sua, olhei angustiado para ver se ELA chegara. Finalmente, junto com mais duas pessoas, a espera acabou. ELA também estava usando roupa no estilo dos demais e a calça preta voava a cada passo. Levantei-me assim que a vi sair do elevador. ELA dirigiu-se ao Recepcionista/Leão de Chácara e, creio, deve ter sido informada de que eu a esperava. Iniciou um processo de caminhar em minha direção, mas apressei-me ao seu encontro.

- Olá! Tenho certeza que seu dia deve estar atarefadíssimo até o final do expediente, mas seria possível que você jantasse comigo?

Falei compassadamente, de forma segura.

- Claro!

- Às dezoito e trinta?

- Está bem.

quinta-feira, abril 15, 2010

Pela felicidade

Nos contratos que tu lavras
Não vi, amor, valimento
Só palavras e palavras
Feitas de sonho e de vento


Cada vez que lembro dessa quadra, lembro, também, do poema que Carlos Drummond de Andrade fez a partir dela. Busque-o num sistema de pesquisa. Vale muito a pena, nestes tempos tão cheios de dores e desamores, ler algo tão belo.

sexta-feira, abril 09, 2010

Sem título

Cada manhã uma nova descoberta. Pensei que conhecia todas as coisas ao meu redor. Me enganei. Há muita estranheza no mundo. Não sei como justificar certas atitudes, não sei como compreender as pessoas se embrutecendo, se animalizando, se me permitem usar esta expressão.


Acordo cedo e me deparo com a notícia da prisão de um professor acusado de pedofilia e me questiono: o que leva uma pessoa a agir assim? Que prazer doentio o de se aproveitar de uma criança de seis anos de idade em busca de um prazer sexual que muitas vezes não se encontra nem com pessoas experientes. Onde foi rompida a capacidade de um educador em ser feliz em ver um aluno se desenvolvendo e passou a preocupar-se com seu prazer carnal?


Não sei se vomito diante dos fatos ou se derramo minhas lágrimas por uma humanidade que não merece mais este título e ainda se vangloria de ser o ápice da criação (ou da própria evolução). Estaria o homem acima de qual animal dito irracional? 


Perdoem-me os Psiquiatras, mas não consigo enxergar nada disto como doença; a mim me parece que o respeito pelos sentimentos do outro, nosso próximo, foi perdido e nunca mais será encontrado.


Eu entendo! pedofilia sempre existiu. Quando criança, lembro de muitos casos acontecerem bem próximo a mim e, claro, não compreendia do que se tratava, sempre diziam: "fulano é gayzinho, ele gosta". Não conhecia a expressão "pedofilia" também.


Agora que estouram casos diários e a mídia cobre o que consegue, vão ficando mais claras as intenções maléficas dessas pessoas. Não sei se podemos justificar tudo com "desequilíbrio", não sei se podemos dizer que é falta de fé - seja de que forma você exercite a sua, não sei se existem seres humanos debaixo da pele dessas criaturas, não sei se há "salvação" para nós, raça humana. Sei que devo indignar-me.


Muitas justificativas de que os que cometem este crime - e acho fraca esta palavra para definir tal atitude, sofreram abusos em suas infâncias. Mas devemos "pagar com a mesma moeda", devemos manter a corrente intacta ou romper de uma vez por todas com uma "tradição" doentia e perversa?


Não tenho argumentação nem conhecimento técnico para discutir tal tema, bem sei, mas quero exercer meu sagrado direito de "estrebuchar" contra essa gente, se assim os podemos chamar.


Deus, dá-me um dia feliz longe destas coisas. Deixa eu acreditar que posso confiar que meus filhos caminharão tranquilos pelas ruas da minha Rio Branco sem que eu viva em sobressaltos.


Dá-me, também, manter-me de pé diante de tanta insensibilidade.

quinta-feira, abril 08, 2010

Desespero

E era como se eu nem estivesse ali, deitado naquela cama, sentindo dores; como se o tempo estivesse se arrastando comigo, levando meu corpo a seu bel-prazer para lugares que não queria ir. Senti-me velho e cansado, mas só tinha 43 anos, como poderia estar velho?


Estava.


Relutei o quanto pude. No entanto, o cansaço se apoderou de mim e me deixei levar. Para onde iríamos não me foi dado saber. Apenas segui como quem confia na mão que lhe guia, de olhos fechados e vontade de acordar do que achava que era sonho. Mas como poderia ser sonho se havia dor? Disse não e me agarrei com todas as forças ao pouco de energia que me restava e gritei. Gritei muito, gritei alto. Não parecia ser ouvido ou ninguém se importava com meus urros.


Agora, desconheço o que foi realidade ou ficção. Sonhei isto? Não! Minha blusa está suja de sangue. Foi tudo verdade.