segunda-feira, janeiro 25, 2010

Pela noite

Se de fato somente estas dores físicas, melhoro gradativamente. Difícil é conter as lágrimas quando presumo que nada que faço e quero me supre. Daí, uma alma cansada teima em reclamar de dores imprevisíveis e a impaciência toma conta dos meus dias. Mas há os que se abalam e se abatem. Não tenho mais o direito de assim agir. Vou em frente sem saber aonde termina o caminho. Desconhecidos passos levando-me a lugares desconhecidos e a busca frenética e incessante. Quem terá as respostas? E elas são necessárias ou são cismas que construí para mim? Mamãe, o que não tem remédio está mesmo remediado? Sussura em meu ouvido. Quem sabe com muito esforço, te ouço e, finalmente, obedeço teus conselhos. Já cansado e nem o dia terminou. Um pouco de "Nessun Dorma" pra completar esta noite.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Pra dizer que tudo está bem

Robinho adoeceu e todos os familiares e amigos se revezavam nas noites a fim de ajudá-lo. Numa determinada noite, coube a Fabio esta missão, porém, cansado de um longo dia cheio de atividades, Fabio adormeceu só despertando ao ouvir o choro abafado e dorido de Robinho. Aturdido, pergunta: "Robinho, tudo bem?". "Sim, apenas estou sentindo muitas dores, mas já tomei um remédio". Fabio ficou bastante constrangido afinal, fora ficar com Robinho para ajudá-lo e acabara adormecendo. Vendo tal constrangimento, Robinho fala: "Meu amigo, só de você estar aqui já fez a minha vida mais feliz hoje".

Quis relatar essa história assim mal contada, mas plena de verdade, para agradecer aos amigos que não se cansam de me demonstrar sua incapacidade e fraqueza diante de minhas dores e, nessa demonstração, deixam muito claro o quanto me amam e me são caros. Nestes momentos em que nada mais podemos fazer a não ser nos calar e oferecer o nosso tempo, tem sido fundamental que eles "aumentem" meu tempo com suas presenças voluntariosas e disponíveis. Parecemos tão fracos, mas juntos, nos tornamos verdadeiros guerreiros. Obrigado a todos. Lentamente, assim como cabe a quem conhece o caminho, estou de volta e logo contarei a vocês as minhas tristes experiências com o "bombom de vidro". Abraço enorme.

domingo, janeiro 17, 2010

Silêncio

Perdão aos que costumam vir aqui, mas as dores - as físicas - nesta última semana têm sido quase insuportáveis e não consigo escrever nada. Assim que melhorar, prometo que volto. Enquanto isto, estou terminando de ler "O Processo", de Franz Kafka e ando me sentindo assim: sendo processado por um tribunal que sequer me informa meu crime.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Um esclarecimento

Por que ainda continuo indo ao (assim, em minúsculas) psicólogo? É bom saber que, além de mim, existe mais alguém que não me entende!

domingo, janeiro 10, 2010

Para minha mãe

Este olhar me foi "emprestado" por Jéssica Sampaio, que não conheço pessoalmente, menina  nascida na mesma cidade que minha mãe, mesma idade que casou-se com meu pai. Ele, aos 37 anos viu esta mesma beleza nos olhos dela, esta mesma expectativa, mesma esperança; este mesmo brilho que oculta um sorriso, mas que se sabe que existe e invade a alma dos que o vêem. Esta é a explicação da foto. Qual é a da postagem? Simples. Após a partida de minha mãe, esforcei-me para esquecer seu rosto de forma a diminuir a tristeza de não tê-la mais por perto a cuidar de mim, a me orientar em decisões, a suportar a dificuldade de ser responsável sem quem para dividir as dores. Esqueci como era o rosto de minha mãe, nunca seu olhar. Jamais falamos sobre os seus sonhos, sobre o que a incomodava, sobre as lágrimas que derramou. Não se chamava Maria, mas conhecia a dor de ter perdido um filho. Senhora Dona Minha Mãe, ando por aqui sendo eu agora também uma Maria-Qualquer, a Maria-Aprendiz, também querendo ser feliz. Ora, quem não quer!? E lutando, muito, para ser um pai tão bom como você foi mãe para mim. E sem muito para dizer a seu respeito, pois que não criaram um dicionário só com adjetivos positivos e as demais palavras não lhe bastam.

sábado, janeiro 09, 2010

Uma lembrança (Uma explicação?)

Não sei bem o que você entenderia diante disto, mas acordei com vontade de contar neste espaço, que é o diário de minhas lembranças também, uma das minhas recordações da presença de meu pai, e só são duas que possuo. Deveria ter por volta de dois anos de idade, portanto, o ano seria mil novecentos e sessenta e oito. Isto! Período de intensa repressão, fato que sei por ter crescido e estudado e conversado com pessoas que atravessaram esse período. Ele, meu pai, militar do que chamamos hoje de ex-Guarda Territorial do Acre, homem extremamente dedicado a conter os "levantes" que porventura pudessem surgir neste canto tão distanciado do Brasil parecia demonstrar um grande carinho por este filho, o mais novo deles e, sempre, ao chegar para o almoço, permitia que eu exercitasse um dos meus momentos favoritos àquela altura: tirar os cadarços de seu coturno. Dava trabalho, mas era prazeroso fazê-lo. Lembro minha mãe servindo-lhe o almoço e, na sequência, dele colocar-me em seu colo e oferecer a mim também. Coisa corriqueira entre os pais e os filhos pequenos que distinguem mal a necessidade de se alimentar e a gula. O cardápio era um frango cozido, prato que gosto muito até hoje. Numa  das vezes que ele me ofereceu o alimento, engasguei com um osso de frango. Lembro da agonia, do desespero de tentar respirar e não poder; lembro do peso de sua mão a bater em minhas costas na tentativa de resolver o problema; lembro de chorar após conseguir desengasgar; lembro dele sentar e me oferecer como prêmio por permanecer vivo, uma surra inesquecível. Por que contei isto? Talvez pra dizer que um dos meus maiores medos é a asfixia. Sempre que a tensão me invade, somatizo na respiração, tenho pavor de regurgitar e, muitas vezes, não como por não conseguir engolir. Há dores que são pequenas, entretanto, dizem muito, coisas que não entendo e que me consomem na busca da compreensão. E meu psicólogo (assim, em minúsculas) achando que pode me ajudar a entender o mundo!

quarta-feira, janeiro 06, 2010

A visita (das Crônicas de Clonazepan)

Não há pressa. Mansamente, com três pessoas da família que ignoro porque estão juntas, entra sem dizer palavra. Senta-se no chão do quarto - não há cerimônia e, assentada ali, silenciosa, diz-me muito. Olho-a como quem fita um ser de outro planeta; como se fosse eu plano e ela possuidora de quatro dimensões. Ela, descritível: olhos negros, cabelos curtos que escondem a nuca, pele inexplicavelmente suave. Por que senta ao chão? Humildade, disponibilidade, demarcação de território? Fita-me. Não como quem olha piedosamente; desejosa, quer a mim; reconhece-me a fragilidade, a angústia, o medo. Nada teme e isto me encoraja. Shorts índigo, sem sapatos, sem maquilagem, despida de atrativos físicos. E sorri. Um sorriso tão largo e profundo que se vê o indizível: a alma. As três pessoas conversam animadamente; eu não estou aqui para eles; eles não estão aqui para mim. Apenas dois e o universo sofre o big bang, a vida começa. Ao que inicia o processo chamo amor, mas não sou bom em nomear, portanto, pode ser outro. Mas qual e por que seria? Nada digo eu. Ela me beija, as três pessoas tagarelam, fico sem ar, procuro o descongestionante nasal, alguém o mudou de posição, busco outro beijo, ela se oferece numa entrega inédita e me consome as forças, vencido o covarde, nascido o homem. Com a mesma mansidão ela se vai. “Eu volto”, é o olhar quem diz; a boca só fala aos beijos. As três pessoas continuam a tagarelar; não as compreendo. O universo faz silêncio pela primeira vez em seu existir. Não sei seu nome. “Me chama SONHO; vou gostar de saber que sou o teu.”

terça-feira, janeiro 05, 2010

Epigrama (CM)

Encostei-me a ti sabendo bem
Que eras somente onda
Sabendo bem que eras nuvem
Depus a minha vida em ti
E como sabia bem tudo isso
E dei-me ao teu destino frágil
Fiquei sem poder chorar quando caí


E o que mais será dito para que entendas?

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Um diálogo

EU: Não consigo enxergar bem nossas "crianças" namorando.
NATAL: James, eles cresceram, nós ficamos velhos, só você que não enxerga isto.
EU: Silêncio.


De fato, tudo mudou. Natal, na banca de vender bombons em frente ao CESEME, tem máquina VISA. Modernidade demais pra este "velho homem".

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Sem possibilidade de título

Após esse reencontro no dia 23.12.2009, poderia, e o fiz, ficar falando horas a fio sobre cada um dos amigos que lá estiveram, sobre os que por motivos maiores não puderam comparecer, sobre as lembranças da adolescência. Escrevi, li, reescrevi, reli e, no final, nada do que pude gerar com meu conhecimento foi suficiente para expressar o que sentia. Então, desisti. Veja algumas imagens, escute a música que faz fundo a elas e imagine o restante. A mim, me cabe só este pouco.

O chiclete bubbaloo






Nestes últimos dias, tenho publicado algumas histórias que achei divertidas na infância e juventude e algumas coisas sérias. Sou composto de ambas portanto, não poderia ficar separando-as a todo momento por receio de "chocar" alguém que, sem nada melhor para fazer, venha até aqui. Sou muito agradecido pelas visitas. Já falei também que meu atual guru de lembranças é Nuno Markl, verdadeira enciclopédia de coisas inúteis e absurdas que nos encantavam durante os anos 80; com alguma definição um pouco diferente da nossa, mas com a mesma essência. Lembrar destes fatos, me faz bem. Nestas "viagens", e completamente desprovido de qualquer ajuda química conseguida com alguma droga, lembrei da primeira vez que provei um chiclete bubbaloo.  Vi aquilo numa banquinha quase em frente ao CESEME e corri a comprar e provar. Que sensação! Os mais velhos que eu diziam que era "um chiclete que gozava". Costumava adiar ao máximo em mordê-lo guardando para o final o melhor: aquele líquido doce escorrendo. Dito assim parece estranho, mas é para estranhar mesmo. Há poucos dias, soube - e parece que tardiamente, da existência de umas bolinhas aromáticas, vendidas em sex-shop, que ao serem "mordidas", porém com outra parte da anatomia humana, "explodem" e deixam sair um líquido perfumando todo o "ambiente". O mundo está me assustando, desenvolveram o bubbaloo para... Paremos por aqui.