terça-feira, julho 27, 2010

De um frio...

Estive nesse fim-de-semana em Sena Madureira e observei, tristemente, o abandono cada vez maior em que se encontra a cidade. Tenho uma história de amor estranha com Sena: minha mãe nasceu lá, por acaso casei com uma moça de lá. Enfim, em minhas veias e nas de meus filhos corre sangue vinculado a um local que me traz grandes alegrias.

Muitas "novidades" me foram contadas - é comum em uma cidade pequena que as notícias voem e que a maior ocupação da maioria da população seja a de "dar conta" da vida alheia. No entanto, em meio a tudo, soube de um senhor que, durante o mais recente período de frio no Acre - e é sempre bom lembrar que Acreano não se habitua a nenhuma redução na temperatura - não resistiu ao fato de, aparentemente após uma grande bebedeira, dormir ao relento e, mesmo recebendo todo atendimento do serviço de saúde da cidade, não resistiu.

As manchetes dos jornais chamaram a atenção para o fato de o "frio talvez tenha sido responsável pela morte do ancião". Concordo plenamente que houve responsabilidade da natureza sobre esse óbito: foi a frieza de quem o viu adormecido na rua, em uma sarjeta, de quem não ofereceu um agasalho, de quem teve mais temor em ajudar do que guardar em sua mente a dúvida sobre a omissão. Sei que também eu agiria de maneira semelhante e escrevo mais para mim que para qualquer outra pessoa: preciso entender melhor como ajudar a mudar a vida, a transformar os desesperançados e tomados de falta de auto-estima a erguerem-se, encarararem de frente os problemas diários que todos temos. O frio está nos matando! Frio de políticos nos prometendo maravilhas até serem eleitos, frio de religiosos nos fazendo esquecer nossa cidadania terrena e viver somente para uma cidadania celeste, frio em nossa educação, em nossa compreensão, frio em nossas relações.

A responsabilidade por essa morte é da natureza, da natureza humana que se cala diante do injusto e que, em nome de interesses bem particulares, vende a consciência, a alma, a vida que não lhe pertence e dormem com suas vontades absurdas.

Vem outro frio por aí, façamos diferente desta vez!

quinta-feira, julho 22, 2010

Ao meu irmão

Caro John, meu mano "véio":

Não é que aconteceu de eu passar pelo antigo caminho ao lado da Escola D. Giocondo Maria Grotti, o famoso "beco do mijo", que faz a ligação de pedestres entre a Cohab do Bosque e o Aviário, numa tarde em que o sol sobre o Acre se fez menos feroz. Imagina quantas recordações vieram à tona e, como aqui é o local de nossas lembranças mais remotas, achei por bem relatar a experiência.

Primeiro, preciso lembrar que passei ao lado da Casa da Marlene (de quem certamente não te lembras), mas nossa mãe lá me levava para cortar meu cabelo. Nunca entendi muito bem os motivos que ela tinha para agir de forma diferente comigo, se todos vocês iam ao que chamamos de "barbeiros". Sei que esta é uma lembrança bem minha, pois, anos depois, numa destas coisas que apelidamos de coincidência, trabalhei na UFAC com a filha de Marlene (Dulce) e... há tantas coisas que não te conto! Mas as sei eu.

Na sequência, a caminhada de nada mais que 10 minutos foi esticada ao máximo como se estivesse atravessando um portal temporal (teria eu entrado em um buraco de minhoca?) chegando à casa do Martins Bruzugú, a Igreja Adventista do Sétimo Dia e, finalmente, começando a percorrer o "beco".

Sim. Eles asfaltaram o beco, reforçaram a proteção da escola, mas o restante está lá, como fantasmas a nos espreitar sendo que o único susto que nos provocam é o de que o tempo passa, contrariamente ao que pensávamos quando jovens. Penso, neste instante, que meus filhos não terão histórias de lugares como este para contar.

Recordei, rapidamente, momentos em que, em meio à falta de energia elétrica, junto com Marquinhos - o Macaxeira - atravessamos em correria com medo sabe-se lá do quê ou de quem; quantas sandálias Havaianas perdi por lá; todas novas; quanta paciência de nossa mãe a, tão sem condições financeiras, ter que comprar outra e outra e outra.

Lembrei deste tempo sem asfalto, com muita lama, muita farra, muita alegria e algumas lágrimas que eram de medo e que agora, teimosamente, assumem o papel de saudade.

Grande abraço saudoso.

quarta-feira, julho 21, 2010

Em que recôndito se esconde esse sentimento chamado amor que, teimosamente, nos abandona quando mais precisamos dele?

terça-feira, julho 13, 2010

Para Karol

Uma coisa me habituei e passei a acreditar: não lembro de ter deixado de fazer qualquer coisa que tenha querido antes de adoecer. Mas nunca havia visto uma morte ocorrer diante de mim e, confesso, nunca senti falta de participar de tal momento.

Ontem, no entanto, perdemos - nós, o mundo - a Karolyna. Menina de menos de 10 anos, a quem nunca ouvi reclamar por ter que fazer tratamento tão desgastante. Admirava a forma como ela andava, sentava e fazia uma refeição antes de ser conectada à maquina e a força com que lutava pela vida sem saber ainda o que significava VIDA.

Jamais ouvi sua voz a não ser no começo da noite de 12 de julho de 2010 quando, em meio a um momento raro de total silêncio na clínica, gritou alto e partiu sem ter tido tempo de compreender os porquês deste mundo injusto.

Hoje, meu dia está mais triste pela perda que não sei como tratar em minha mente de adulto e coração de criança.

Tchau, Karol. A gente se vê novamente qualquer dia desses em que vou poder sentir a alegria de vê-la sorrindo pela primeira vez.

sábado, julho 10, 2010

A mim é que compete escolher o prêmio e a hora de o dar. (José Saramago, na voz de Joana Carda)

sexta-feira, julho 02, 2010

Se eu morrer antes de você

Se eu morrer antes de você,
faça-me um favor:
Chore o quanto quiser,
mas não brigue com Deus
por Ele haver me levado.
Se não quiser chorar, não chore.
Se não conseguir chorar,
não se preocupe.
Se tiver vontade de rir, ria.
Se alguns amigos contarem
algum fato a meu respeito,
ouça e acrescente sua versão.
Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
Se me criticarem demais, defenda-me.
Se me quiserem fazer um santo,
só porque morri,
mostre que eu tinha um pouco de santo,
mas estava longe
de ser o santo que me pintam.
Se me quiserem fazer um demônio,
mostre que eu talvez tivesse um pouco
de demônio, mas que a vida
inteira eu tentei ser bom e amigo.
Espero estar com Ele o suficiente para
continuar sendo útil a você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever
alguma coisa sobre mim,
diga apenas uma frase:
- "Foi meu amigo,
acreditou em mim
e me quis mais perto de Deus!"
- Aí, então, derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la,
mas não faz mal.
Outros amigos farão isso no meu lugar.
E, vendo-me bem substituído,
irei cuidar de minha nova tarefa no céu.
Mas, de vez em quando,
dê uma espiadinha na direção de Deus.
Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz
vendo você olhar para Ele.
E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai,
aí, sem nenhum véu a separar a gente,
vamos viver, em Deus,
a amizade que aqui nos preparou para Ele.
Você acredita nessas coisas?
Então ore para que nós vivamos
como quem sabe que vai morrer um dia,
e que morramos como
quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido se traz o céu
para mais perto da gente,
e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
Mas, se eu morrer antes de você,
acho que não vou estranhar o céu...
Ser seu amigo...
já é um pedaço dele...