quarta-feira, dezembro 29, 2010

Viagem programada para o Recife. Assim que der, de lá ou quando voltar, voltaremos às atividades neste humilde blogue. Fé e torcida porque o caso é sério. Vou fazer uma revascularização. Medo, muito medo, mas confiando que tudo dará certo. Na pior das hipóteses, estarei numa das cidades que mais amo. Até a volta.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Carta a Papai Noel

Caro Papai Noel:

Esta é a primeira vez que lhe escrevo. Sei que quando criança, sempre procurei me comportar bem. Não fui lá um aluno dedicado nem um filho de encher os olhos de minha mãe, mas também nunca recebi sua visita, a não ser aquela vez que o senhor me deixou um tratorzinho de plástico. Gostei muito, apesar de que o senhor deveria saber que eu gostaria mesmo de receber um kit de Xerife, com revólver, chapéu, cartucheira; e que o revólver tinha que ser de espoleta, porque o som de tiro ficaria mais real, como nos filmes do Daniel Boone.

Dizem por aqui que o senhor não existe. Não acredito em gente sem ilusões. São vazios demais para que eu os leve em consideração. Se o senhor não existe, porque tem tantos nomes? Seja como for, a Lapônia existe, então, o senhor deve morar lá mesmo e pode realizar os sonhos.

Quando estava decidido a escrever minha carta deste ano, pensei que o senhor só atende a pedidos de coisas materiais e, apesar de não ser rico, não ando sentindo falta de nada destas coisas e achei que não haveria mal nenhum em pedir um rim. Sim, estou muito cansado das sessões de hemodiálise que me deixam fraco e infrutífero, sem paciência e ânimo para realizar as tarefas que, parece, foram redobradas desde junho de 2006. Na verdade, viver sobre essa linha tão fina entre vida e morte me deixa assustado e também não suporto mais ver as pessoas que são as companhias nesta jornada partirem de forma tão abrupta: quando tento me reconfortar com a partida de um outro já vai e vou ficando cada vez mais aterrorizado.

Enfim, mesmo sabendo que seria complicado ganhar o presente, acreditei que não havia porque temer pedir. Mas minha vida tá parecendo novela do Sylvio de Abreu: todo capítulo uma tragédia a me enlouquecer e daí a única resolução para o Ano Novo que ouvi foi a de um médico me prometendo que começará 2011 realizando uma cirurgia no meu coração, uma coisa que eles falam, com tranquilidade e certa frieza: "cirurgia de peito aberto".

Nossa, Papai Noel, fiquei com tanto medo que nem o Diazepam ajuda a controlar! Mas irei em frente, não há outra alternativa.

Então, ao invés do rim, gostaria que o senhor me desse um alívio e forças para suportar mais esta dificuldade. Sei que o senhor não é Deus. Dizem que o senhor é pagão. Não sei o que isto quer dizer. Só acredito que o senhor deve ter alguma intimidade com Ele, pois o senhor traz alegria para muitos e foi amar a todos que o Filho d'Ele ensinou a fazer. Entendo que tenho que ser bom com todos e não sei fazer isto. Amo com maior facilidade a Clara que o Fred, mas eles não vão ganhar presentes, eu sei. Ando agindo um pouco melhor que eles, sendo comportado e calmo na medida do possível.

Bem, Papai Noel, é em cima da hora que escrevo, mas perdoe-me. Só hoje pude ter consciência que era necessário pedir o que me faz falta senão nunca receberia nada.

Obrigado e bom trabalho na noite de sexta.

James Fernandes

P.S.: O senhor sabe onde moro, não precisa do endereço.


domingo, dezembro 05, 2010

Minha meia dúzia de 10 seguidores,

Tõ muito enrolado com tanta coisa escangalhada por aqui. Assim que der, volto a escrever. Perdoem a ausência.

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Sorôco, sua mãe, sua filha

Aquele carro parara na linha de resguardo, desde a véspera, tinha vindo com o expresso do Rio, e estava lá, no desvio de dentro, na esplanada da estação. Não era um vagão comum de passageiros, de primeira, só que mais vistoso, todo novo. A gente reparando, notava as diferenças. Assim repartido em dois, num dos cômodos as janelas sendo de grades, feito as de cadeia, para os presos. A gente sabia que, com pouco, ele ia rodar de volta, atrelado ao expresso daí de baixo, fazendo parte da composição. Ia servir para levar duas mulheres, para longe, para sempre. O trem do sertão passava às 12h45m.

As muitas pessoas já estavam de ajuntamento, em beira do carro, para esperar. As pessoas não queriam poder ficar se entristecendo, conversavam, cada um porfiando no falar com sensatez, como sabendo mais do que os outros a prática do acontecer das coisas. Sempre chegava mais povo – o movimento. Aquilo quase no fim da esplanada, do lado do curral de embarque de bois, antes da guarita do guarda-chaves, perto dos empilhados de lenha. Sorôco ia t razer as duas, conforme. A mãe de Sorôco era de idade, com para mais de uns setenta. A filha, ele só tinha aquela. Sorôco era viúvo. Afora essas, não se conhecia dele o parente nenhum.

A hora era de muito sol – o povo caçava jeito de ficarem debaixo da sombra das árvores de cedro. O carro lembrava um canoão no seco, navio. A gente olhava: nas reluzências do ar, parecia que ele estava torto, que nas pontas se empinava. O borco bojudo do telhadilho dele alumiava em preto. Parecia coisa de invento de muita distância, sem piedade nenhuma, e que a gente não pudesse imaginar direito nem se acostumar de ver, e não sendo de ninguém. Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe. Para o pobre, os lugares são mais longe.

O Agente da estação apareceu, fardado de amarelo, com o livro de capa preta e as bandeirinhas verde e vermelha debaixo do braço. – "Vai ver se botaram água fresca no carro..." – ele mandou. Depois, o guarda-freios andou mexendo nas mangueiras de engate. Alguém deu aviso: – "Eles vêm!... " Apontavam, da Rua de Baixo, onde morava Sorôco. Ele era um homenzão, brutalhudo de corpo, com a cara grande, uma barba, fiosa, encardida em amarelo, e uns pés, com alpercatas: as crianças tomavam medo dele; mais, da voz, que era quase pouca, grossa, que em seguida se afinava. Vinham vindo, com o trazer de comitiva.

Aí, paravam. A filha – a moça – tinha pegado a cantar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, nem no tom nem no se-dizer das palavras – o nenhum. A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspecto de admiração. Assim com panos e papeis, de diversas cores, uma carapuça em cima dos espalhados cabelos, e enfunada em tantas roupas ainda de mais misturas, tiras e faixas, dependuradas – virundangas: matéria de maluco. A velha só estava de preto, com um fichu preto, ela batia com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que diferentes, elas se assemelhavam.

Sorôco estava dando o braço a elas, uma de cada lado. Em mentira, parecia entrada em igreja, num casório. Era uma tristeza. Parecia enterro. Todos ficavam de parte, a chusma de gente não querendo afirmar as vistas, por causa daqueles transmodos e despropósitos, de fazer risos, e por conta de Sorôco – para não parecer pouco caso. Ele hoje estava calçado de botinas, e de paletó, com chapéu grande, botara sua roupa melhor, os maltrapos. E estava reportado e atalhado, humildoso. Todos diziam a ele seus respeitos, de dó. Ele respondia: – "Deus vos pague essa despesa... "

O que os outros se diziam: que Sorôco tinha tido muita paciência. Sendo que não ia sentir falta dessas transtornadas pobrezinhas, era até um alívio. Isso não tinha cura, elas não iam voltar, nunca mais. De antes, Sorôco agüentara de repassar tantas desgraças, de morar com as duas, pelejava. Daí, com os anos, elas pioraram, ele não dava mais conta, teve de chamar ajuda, que foi preciso. Tiveram que olhar em socorro dele, determinar de dar as providências de mercê. Quem pagava tudo era o Governo, que tinha mandado o carro. Por forma que, por força disso, agora iam remir com as duas, em hospícios. O se seguir.

De repente, a velha se desapareceu do braço de Sorôco, foi se sentar no degrau da escadinha do carro. – "Ela não faz nada, seo Agente..." – a voz de Sorôco estava muito branda: – "Ela não acode, quando a gente chama..." A moça, aí, tornou a cantar, virada para o povo, o ao ar, a cara dela era um repouso estatelado, não queria dar-se em espetáculo, mas representava de outroras grandezas, impossíveis. Mas a gente viu a velha olhar para ela, com um encanto de pressentimento muito antigo – um amor extremoso. E, principiando baixinho, mas depois puxando pela voz, ela pegou a cantar, também, tomando o exemplo, a cantiga mesma da outra, que ninguém não entendia. Agora elas cantavam junto, não paravam de cantar.

Aí que já estava chegando a horinha do trem, tinham de dar fim aos aprestes, fazer as duas entrar para o carro de janelas enxequetadas de grades. Assim, num consumiço, sem despedida nenhuma, que elas nem haviam de poder entender. Nessa diligência, os que iam com elas, por bem-fazer, na viagem comprida, eram o Nenêgo, despachado e animoso, e o José Abençoado, pessoa de muita cautela, estes serviam para ter mão nelas, em toda juntura. E subiam também no carro uns rapazinhos, carregando as trouxas e malas, e as coisas de comer, muitas, que não iam fazer míngua, os embrulhos de pão. Por derradeiro, o Nenêgo ainda se apareceu na plataforma, para os gestos de que tudo ia em ordem. Elas não haviam de dar trabalhos.

Agora, mesmo, a gente só escutava era o acorcôo do canto, das duas, aquela chirimia, que avocava: que era um constado de enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente, sem jurisprudência de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois.

Sorôco. Tomara aquilo se acabasse. O trem chegando, a máquina manobrando sozinha para vir pegar o carro. O trem apitou, e passou, se foi, o de sempre. Sorôco nâo esperou tudo se sumir. Nem olhou. Só ficou de chapéu na mão, mais de barba quadrada, surdo – o que nele mais espantava. O triste do homem, lá, decretado, embargando-se de poder falar algumas suas palavras. Ao sofrer o assim das coisas, ele, no oco sem beiras, debaixo do peso, sem queixa, exemploso. E lhe falaram: – "O mundo esta dessa forma... " Todos, no arregalado respeito, tinham as vistas neblinadas. De repente, todos gostavam demais de Sorôco.

Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desacontecido, e virou, pra ir-s'embora. Estava voltando para casa, como se estivesse indo para longe, fora de conta.

Mas, parou. Em tanto que se esquisitou, parecia que ia perder o de si, parar de ser. Assim num excesso de espírito, fora de sentido. E foi o que não se podia prevenir: quem ia fazer siso naquilo? Num rompido – ele começou a cantar, alteado, forte, mas sozinho para si – e era a cantiga, mesma, de desatino, que as duas tanto tinham cantado. Cantava continuando.

A gente se esfriou, se afundou – um instantâneo. A gente... E foi sem combinação, nem ninguém entendia o que se fizesse: todos, de uma vez, de dó do Sorôco, principiaram também a acompanhar aquele canto sem razão. E com as vozes tão altas! Todos caminhando, com ele, Sorôco, e canta que cantando, atrás dele, os mais de detrás quase que corriam, ninguém deixasse de cantar. Foi o de não sair mais da memória. Foi um caso sem comparação.

A gente estava levando agora o Sorôco para a casa dele, de verdade. A gente, com ele, ia até aonde que ia aquela cantiga.

Guimarães Rosa

quinta-feira, novembro 18, 2010

Comentários "quase" risíveis

Ontem foi dia de Hemodiálise. Por esta “simples” razão, fiz hipotensão e hipoglicemia severas e fiquei hiper sem condições de acompanhar as “twitadas”. O fiz hoje logo ao despertar, por volta das seis da manhã.

Foi nessa incursão que encontrei o texto da jornalista - e linda - @lysmendes sob o título “é difícil ser solteira em Rio Branco” (leia). Claro, concordei com muito do que ali foi dito – lembre que a intenção dela era rir sobre o tema, mas acabou provocando reflexões.

Ora, vamos ao que interessa. Qual de nós, homens ou mulheres e até mesmo essa galera que não é uma coisa nem outra, tem realmente interesse em ir além da casca das pessoas? Na verdade, dedicamos muito tempo ao embrulho que ao conteúdo. Nem nos permitimos, na maioria esmagadora das vezes, analisar o conteúdo. O colocamos em um canto e sequer retiramos a poeira vez ou outra até que, num momento de insípida vida, resolvemos dar uma olhada. E pensamos: não é que valeria a pena... Mas, que pena: as traças já se fartaram e não há mais como desvendar o importante que estava ali.

Lembrei, durante a leitura, de um momento em que, atormentado de trabalho, fiquei uns três ou quatro dias sem poder encontrar a namorada e, pasmem, sou tão antigo que não havia celulares em Rio Branco, portanto não havia um contato telefônico já que ela não possuía tal aparelho em casa. Achei que seria interessante enviar umas flores com um pequeno cartão em que dizia, de maneira simples, careta, brega e direta: “meu tempo é pouco, mas é todo seu”.

A reação dela? Disse ao entregador que não queria flores e, antes que esse dia terminasse, elas jaziam murchas em uma lata de lixo. Logo eu, que andava fazendo a linha Roberto Carlos, do tipo que ainda mandava flores e que no peito ainda habitavam recordações de seus velhos amores.

Não, meninas. Vocês mudaram tanto que assustaram os homens e tem sobrado amigos vindo reclamar comigo que as mulheres não estão interessadas nos “caras” que querem algo a sério; só se interessam por cafajestes.

Não creio que seja assim tão cru, mas há verdade nesta afirmação também. Ao mesmo tempo que os homens querem esse misto de “rosto de Bündchen com bunda de Paes”, ficam as meninas buscando os “Pitt”. E aí piora: querem o Brad completo. Se os homens querem um Frankstein feminino, as mulheres querem o que é raro e único.

Não somos Clark Kent com sua visão de raios-X. Temos que conversar para compreender e quem quer falar por mais de cinco minutos? Quem oferece com franqueza a bula para uma conversa com uma mulher? Ficam os homens temendo a cada sílaba em não tropeçar e, cada vez que nos preocupamos em não desagradar, mais riscos corremos de fazê-lo.

Vale o que disse o antigo escritor: se buscasse eu alguém para castigar outro já teria voluntários, mas se pedisse que se lhe fosse feito um carinho, nenhum se apresentaria.

Vamos combinar de baixar a guarda e a nossa bola: somos da maneira como nascemos – e diria minha filha que ninguém pede pra nascer como nasce – e oportunizar a compreensão dos limites do outro.

Citando Millôr Fernandes, os homens não são iguais. Apenas feitos da mesma maneira. Eu acrescento: os que acham que se bastam acabam sendo uns bostas.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Regressão a vidas passadas

Eu tenho várias amigas que fizeram um trabalho de regressão a vidas passadas e, coincidentemente, todas foram Cleópatra em alguma de suas encarnações anteriores. O que mais me intriga nessa história de gente que começa a remexer no passado metafísico é que ninguém quer ser o “Zé povinho”.  Todo mundo foi um grande rei, uma duquesa, um artista genial. Cheio de dúvidas e curiosidades resolvi conjugar o meu pretérito para ver se também era “mais-que-perfeito”. Descobri que fui Noel Rosa há uns anos atrás, ao mesmo tempo  em que acumulava as funções de Charles Chaplin e Greta Garbo. O fato de eu ter tido três encarnações simultâneas é explicável, pois, certas almas são tão grandes, mas tão grandes que, às vezes, precisam de mais de uma embalagem. Como se viu no filme sobre a vida, ou melhor, sobre uma das vidas do Dalai-Lama. Não fui Cleópatra, como vocês poderiam imaginar. Fui Julio Cesar e comi todas elas e eram várias. Lá pelos idos do século XV voltei Leonardo da Vinci. Tive também minha fase de navegador na pele de Cristovão Colombo. Mas, cansei do mar. Peguei  um tal  enjôo de navio que hoje em dia só viajo de avião, aliás, veículo que inventei quando encarnei Santos Dumont. Houve uma época em que estive Faraó. Reinei sobre o Egito com o nome de Quéops e, durante esse período, acumulei uma fortuna considerável. Mandei construir a enorme pirâmide de Gizé, modéstia à parte a maior obra de engenharia da história da humanidade, e ordenei que junto o com meu corpo mumificado fosse enterrada boa parte do meu tesouro. Mesmo com todas as evidências, até hoje não consegui convencer ninguém de que tudo aquilo me pertence. Ocupei a presidência dos Estados Unidos em mais de uma oportunidade e, apesar de haver sido assassinado duas vezes, não desisto: eu sempre volto. Mas ando meio cansado de política. A minha próxima encarnação tô pensando em viver novas emoções. Talvez um cantor de Rap ou um piloto de Fórmula 1. Não quero me estender em mais detalhes para não aborrecer vocês. Só gostaria de encerrar dizendo que viajar pelo meu passado foi uma experiência fascinante. Voltar no tempo através de uma regressão é muito bom porque a gente vai revendo os velhos amigos, despertando antigas paixões mas, infelizmente, chega uma hora que começa a bater um cansaço e a memória vai ficando embaçada. A última coisa que consegui enxergar foi o momento de uma das minhas mortes há mais ou menos uns dois mil anos quando eu estava de braços abertos numa cruz gritando pro meu pai.  E não vou nem dizer o nome do velho pra vocês não pensarem que eu tô aqui querendo me exibir.
Kledir Ramil

quarta-feira, novembro 03, 2010

Cheguei aos 44

Meu dia hoje. Como presente, se você me visita, deixa um comentário clicando aí em "eu acho". Fique certo que me dará a sensação de que não fui obrigado a começar meu aniversário com uma sessão de hemodiálise. Obrigado pela visita e pela paciência.

sábado, outubro 23, 2010

Amor sem grades

Vez ou outra sinto como se, de repente, eu não soubesse ou não pudesse amar a filha Marina, pois sou o tipo de pai pouco possessivo. Ela mesma já me questionou a normalidade:



- Todos os pais das amigas brigam porque elas querem sair; você briga pra eu sair. Não te entendo.


Nem eu compreendo.


Quando tinha a idade dela, 15 anos, ganhei de um irmão a cópia da chave de casa e nunca mais soube o que era ficar em casa à noite ou chegar cedo. Tinha ganhado o passaporte para a liberdade, o inalienável direito de ir e vir.


E foram nessas saídas que comecei a aprender sobre política, sobre música, sobre amizade. Comecei a enxergar o mundo.


Era um tempo, óbvio, em que violência era algo que ouvia muito de longe, não batia à porta com tanta freqüência. Como se estivesse protegido de todos os males, abusava das caminhadas na madrugada a caminho de casa, sem preocupações. Tinha medo, nesse período, do sobrenatural. Das pessoas vivas, não acreditava que me fizessem algum dano.


Claro que hoje a história é outra, mas sou decidido a não construir um presídio para os filhos. Aprender sobre a vida só comigo é trilhar o mesmo caminho e seria muita pretensão achar que sei bem distinguir certo e errado.


Guardar os filhos das doenças do mundo é tentar prever o imprevisível. Ainda adolescente fui assaltado dentro de casa. Nunca na rua. Então, qual era a segurança que minha casa dava que eu não encontrasse nas ruas?


Respeito muito quem ama aos filhos dessa maneira superprotetora; não o faço. Quero-os livres, aprendendo a lidar com as intempéries. Acho que é mais amor.

sexta-feira, outubro 15, 2010

De ônibus 2

O que me levaria a uma viagem de ônibus, num calor de quase quarenta graus, hoje pela manhã? Acho que quis testar se suportaria sem cambalear, sem desmaios e afins. Fui e sobrevivi, por pouco, mas consegui. Ao chegar no ponto, me deparei com a enormidade de pessoas aguardando - não me afligi. Sempre há a possibilidade de ouvir histórias interessantes. Não houveram.

Curioso observador, reparo na moça com jeans azul e camiseta verde, alça do sutiã à mostra (quem se importa com isto no calor quase de inferno que anda fazendo no Acre). Ela movimenta o cabelo, levanta, solta, suspira, me lança um olhar desesperado como a dizer: "não suporto mais"; abaixa a cabeça sobre o vidro que separa a cabine do motorista e percebo que chega ao fim de suas forças. Ela luta, bate os pés, suspira, me olha novamente - o mesmo olhar desesperado pedindo cumplicidade. Falamos sem mover os lábios sobre o quão insuportável está a viagem. Estamos em lados opostos à catraca.

Um braço, incrivelmente frio, me toca. A  moça usa uniforme de uma empresa. Afasto - ela pode pensar que estou me aproveitando para roçar-lhe o braço. Ela o faz novamente. Me fala sem palavras: "posso comentar o que quiser com você, mas não farei". Não insisto. Minha paixão está direcionada à moça da frente aflita de calor, que me olha uma terceira vez. Pensa ela, certamente, que estou encantado com sua beleza. Engano: quero a cumplicidade dela no sofrimento.

Uma aluna toma a iniciativa de abrir caminho sem pedir licença. Corpo magro, desvia-se dos demais e atinge o final do ônibus. É engolida pela multidão. Não a verei mais durante a viagem,

Gosto da idéia de que mais alguém acumulou uma história em que serei personagem...

segunda-feira, outubro 11, 2010

Que título poderia eu dar?

Há coisas que jamais compreenderei: por que pessoas que amamos têm que morrer; por que não ficamos felizes todos os dias; por que nos sentimos culpados mesmo sabendo que não somos responsáveis por todos os males que se abatem sobre nossos queridos; por que os outubros continuam vindo e indo indiferentes a nossa vontade.

Foi num janeiro que tudo começou. Cheguei em casa para o almoço em um dia normal de trabalho, num tempo em que ainda conseguia ir almoçar em casa, sem problemas de trânsito, sem correrias, sem angústias. Não havia uma mesa digna para que sentássemos e fizéssemos a refeição, mas era em paz que nos alimentávamos, sem sobressaltos. Foi abaixo de um prato que aquela menina que, aos dezenove anos casara comigo me perguntando se poderíamos esperar uns dois anos para termos um filho, me entregou o resutado do exame: estava grávida. Confesso não recordar se havia alegria em seu olhar. Havia esperança no meu e a dúvida: saberei ser pai?

Conversamos como conversam os recém-casados, tomados de espanto, mas sabedores que aquela era a sequência da vida: seríamos pais, independentemente de não termos cumprido o compromisso de aguardar o tempo estipulado. Bastava saber que haveria uma nova vida ali.

De imediato, pensei e falei que seria uma menina. Como saber, se o exame havia sido feito nesta mesma manhã? Eu sabia e pronto e me dispus a escolher um nome. Não houve preparação alguma, a escolha era tão absurda àquela altura quanto imaginar que havia um ser ali, sendo gerado.

Após o almoço, folheei uma revista enquanto pensava como a notícia chegaria ao restante da família, se haveria alegria em saber ou se a preocupação seria maior. Deparo-me, em folha dupla com o nome ISABELLA. Uma reportagem sobre Isabella Rosselinni. Achei o nome bonito porque saia de uma insuportável mania de "Isabele". O nome chegara pronto. Isabella somente, nada de nome composto, nada de invencionices, bastavam os dos "l" que tinha decidido para que a estranheza se completasse.

Isabella nasceu em 11 de outubro de 1991 e sobreviveu à imperícia de um médico até o dia 15 de outubro. A saudade e a lembrança dela, me perseguem, ainda que me tenha habituado a não comentar até hoje e pelos, espero, longos anos que ainda me restam.

(A título de informação, sempre "adivinhei" o sexo dos meus filhos ainda no início da gravidez.)

domingo, outubro 10, 2010

Os Saltimbancos do GPT

Há um longo tempo não me dispunha a ir ao teatro; fui ontem. Não pela novidade do espetáculo - uma remontagem de "Os Saltimbancos", mas pela vontade de ouvir uma mensagem que faz sentindo ainda hoje: "todos juntos somos fortes".

À apresentação do GPT, em comemoração aos seus 20 anos, fui esperando ver a mesmice das dezenas de montagens que assisti. Felizmente estava enganado: Dinho Gonçalves soube mover a luz. 

Teatro lotado, muitas crianças e um bando de adultos em êxtase com o espetáculo, foi o que vi. Muito mais que a peça, assisti ao renascimento de sonhos e esperanças, aos olhos voltados a projetos destemidos. Creio que os assuntos da noite de ontem nos bares foi esse espetáculo.

Críticas negativas certamente virão, não serão minhas. Na simplicidade da montagem, com recursos escassos, para um público que não tem por hábito ir ao teatro,  gargalhadas e reflexões foram, mais uma vez, repassadas. Há que se ter esperança que a nova geração que estava lá fará diferente do que fomos capazes.

O destaque dessa montagem, em opinião de mamulengo que sou, saiu do pelo luzidio da "gata", toda preta, para uma assustada "galinha" que fez a diferença no palco e encantou a platéia. Vi, em meio à escuridão, os olhos de Marina (a filha) brilharem aos 15 anos de idade como se houvesse descoberto um mundo novo. Há tempos, não via tanta felicidade nela e, só por isto, já me agrada ter, mesmo me sentindo mal fisicamente, ter ido ao Teatro de Arena do SESC.

[Todos os sábados e domingos de outubro, a peça estará sendo levada; não deixe de (re)ver]

Pra final de conversa

Nasci aqui num cantinho do Brasil chamado Acre, que faz divisa com Bolívia e Peru. É um lugar no qual se tem a impressão que, a qualquer momento, poderá cair do mapa. Mas não cai.  Caiu ontem, três de outubro, no mar da desilusão, da desinformação; no mar da busca desesperada por ser ouvido. Deu vitória ao candidato que não era apoiado pelo governo local, candidato que não pôs os pés no Acre - apesar de dizer o contrário, que não tem a menor sintonia com suas idéias que, aliás, não parecem encontrar apoio nem em seu próprio partido. Não deu vitória nem à candidata nascida em suas terras: nem por "bairrismo" votou nela.

Alguma coisa tem que estar errada. Alguma queixa a população tem. Algum desejo de ser entendida habita em seu coração. Ouvirão, os políticos locais, essa mensagem ou simplesmente farão como sempre: a culpa é do povo que não sabe votar!

sábado, outubro 02, 2010

Marina de todas as cores

Por volta dos anos 1982-83 tive contato pela primeira vez com a política. Nesse momento, com a estudantil e a partidária, ao mesmo tempo. Era período que se engatinhava em busca do fim do regime ditatorial, período de partidos clandestinos, propostas de socialismo e modelos que, àquela altura, eram considerados exemplos a serem seguidos. De lados claramente opostos, com pontos que encontravam certa intersecção, estavam dois partidos, que lembro, citavam a Albânia como paraíso socialista e, de outro, Cuba. Esse era o resumo que minha cabeça de menino interessado em coisas menores conseguia atingir.

Até hoje, por falta de maior interesse, não faço a menor idéia de onde seria a famosa Albânia e Cuba, evidentemente, que continua sendo um mau exemplo a ser seguido, tem maior relevância em minhas memórias.


Não tive e, ainda que tivesse não o faria, complementação aprofundada sobre suas diferenças administrativas, seus pontos de vista, seus ícones, seus ideais de sociedade igualitária. Muito disto me interessava assim como pouco me tomava à paixão.



Foto da Folha de São Paulo
Foi em meio a estas pequenas disputas de pontos-de-vista que me vi envolvido com pessoas que hoje ocupam o poder estabelecido na forma da legislação do País; que estavam dispostas e preparando-se sempre para um confronto que poderia ir além das idéias e atingir o campo das disputas armadas.


Não era minha função entender a fundo nenhuma destas questões até então. Cabia a mim, ajudar a preparar um grupo que estivesse pronto para propor causas diferentes quando o momento certo chegasse. Foi assim que conheci os amigos que até hoje fazem parte do meu pequeno círculo de amizades: Edson, Natal, Fran, Anna, Nonato, Tania, Jair, Arimatéia, Evandilson e outros tantos que a memória me trai.

Esta mesma época foi a de conhecimento de Marina Silva, Binho Marques, Marcos Afonso, Carioca, Cardoso e, mais uma vez me trai a memória ao esconder tantos outros nomes, mas que se encontram fazendo a política partidária, comandando administrativamente o estado do Acre. Alguns outros surgiriam nos anos finais de 1980.


Dez anos depois, por decisões que de maneira alguma compreendo, uma terceira pessoa foi colocada sobre o cume da política acreana, sendo eleito prefeito da capital acreana para, em seguida, tornar-se governador. O sonho parecia tornar-se realidade. Finalmente, teríamos as possibilidades concretas de transformar as palavras em ações. Era chegado o momento de fazer valer o que se planejara por longos anos, em infindáveis reuniões de estudo.


Seria injusto de minha parte dizer que não aconteceram avanços, melhorias físicas das cidades, melhoria no respeito aos servidores públicos, abertura de possibilidades de crescimento comercial e, agora, propõe-se a “industrialização do Acre”.


Lembro de certa vez ter ouvido de Marina Silva – e não tenho a pretensão que ela lembre nem que leia tal texto – que “tínhamos que aprender que nem todas as pessoas podem ter condicionador de ar, pois o meio-ambiente será destruído mais ainda”. É esta frase que não me sai da cabeça hoje, véspera da eleição para presidente da República em que, em meus sonhos mais absurdos jamais poderia imaginar aquela menina negra, magricela e um tanto “gasguita”, que já falava e as veias saltavam-lhe no pescoço, estivesse disputando de maneira corajosa e eficiente uma corrida presidencial.

Imagino, ainda que distante, o desafio que enfrenta essa mulher: lutar para mostrar que seu discurso é maior que o da preservação do meio-ambiente. O quê tem de suportar para mostrar que todas as ações estão vinculadas a este mesmo meio-ambiente – que, aliás, deveríamos passar a chamar só de ambiente. É o nosso ambiente de moradia, ainda que você concorde com Marina em sua fé em vida após esta. Se for assim que você pensa, sabe-se “cidadão do Céu”, mas morando na Terra, por enquanto. E, se você é visitante aqui, se este planeta te hospeda enquanto chega a hora de voltar para casa, não pode querer destruir a decoração da casa.


Há quem grite a plenos pulmões que “ela é da selva”; não é. É do campo e da cidade; é do Brasil e do Mundo; da Terra e do Céu. O mundo de Marina não é azul, nem rosa, nem verde. Nele, todas as cores são permitidas e é lá, no final desse arco-íris que reside o pote de ouro.

quarta-feira, setembro 29, 2010

Sem dizer adeus

Estou ficando imensamente cansado de ter que vir aqui e dizer adeus a amigos. Somos tão jovens para tais despedidas, mas fui surpreendido no início da tarde com a notícia da morte de mais um amigo. Se você me acompanha aqui ou pelo twitter, forçando um pouco a memória vai lembrar que, há alguns dias, falei sobre a possibilidade de um transplante renal para dois amigos e que a família havia desistido da doação.

Pois bem. Um daqueles amigos não resistiu mais e nos deixou hoje às cinco da manhã.

Claro que isto mexe com os mais íntimos sentimentos e nem estou com disposição para escrever o quanto sentirei falta do companheiro de jornada.

Nestes momentos, gostaria de acreditar que os espíritos ficam nos olhando lá de onde eles estejam hospedados pra que ele pudesse saber como estou me sentindo.

Até um dia, Zé Lima.
COVER

Gata Vip
O CONTEÚDO FOI CENSURADO PELA GATA VIP!!



Nome completo: Kethleen Maklaine da Costa Diniz

Signo: Libra
Parte do corpo preferida: A mais quente e úmida

Parte do corpo que mais gosta em um homem: A maior, na horizontal

O que não tolero em um homem: Pobreza
Homem Bonito: Um certo
Mulher Bonita: Xuxa
Música: Todas do Reginaldo Rossi
Filme: A Lagoa Azul
Viagem: Um mês que passei em Manuel Urbano
Perfume: Essa é fácil: MALBEC
O gosto de um beijo inesquecível: O de um cara que queria engolir minha face. Não esqueço pra nunca repetir
Dica pra seduzir um homem: Tá a fim de um sexo gostoso?
Uma dica pra te seduzir: Quer meu cartão de crédito pra você usar sem limites?
Não vivo sem: Minhas filhas
Uma filosofia de vida: Case-se
Uma frase: Agora fudeu! 

domingo, setembro 26, 2010

"USA For Africa" made in Brazil

Vim aqui rapidinho só pra enviar este vídeo: um momento USA For Africa made in Brazil. A campanha foi em 1985, durante um dos muitos sofrimentos do Nordeste Brasileiro. Vale pelo instante "Bruce Springsteen" de Tim Maia e Fagner. A situação do Nordeste ficou a mesma merda ou pior. Tá quase na hora de eleição. Vamos ficar atentos. O vídeo eu "abduzi" lá do You Tube. Não poderia ficar sem esta "pérola". A música "chega de mágoa" é de Gonzaguinha, acho.



Em tempo: já vi coisas deste tipo em Portugal, Espanha e alguns outros.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Máquina de escrever

Amo tecnologia, apesar de não ser um especialista. As facilidades são tantas, a velocidade dos contatos, a chegada da informações, tudo em segundos. Tenho a vantagem de me adaptar a coisas novas - pelo menos a algumas.

Agora mesmo, enquanto digito, faço em um "notebook", conectado 24 horas; acompanho a chegada de mails imediatamente, envio novas mensagens, corrijo o texto sem grandes demoras.


Mas, nem sempre foi assim.

Lembro que, por volta dos 12 anos, vi uma máquina de datilografia pela primeira vez em minha casa, sendo usada por uma das várias namoradas de meu irmão. Fazia ela um trabalho para ele e ví aquelas letras tão bonitas numa folha de papel sem vida há pouco e pensei: "poderia pedir pra ela fazer meu trabalho de escola; ia ficar bonito e poderia melhorar minha nota". E, olha, eu precisava mesmo melhorar a nota!

Pedi e a resposta foi um coice digno de cavalo indomado.

Lembro de ter chorado muito, mas não lembro se pela "patada" ou por ter um desejo simples não atendido.

Minha mãe - sempre ela - sem saber do assunto, pergunta o que aconteceu. Respondi meio sem jeito, pois já passara a achar idiota sofrer por essa bobagem. Mas, minha "velha", que na verdade era nova até quando morreu, apenas falou-me: "deixe, meu filho." As mães falam umas coisas que a gente só pode compreender milhares de anos depois.

A vida tem que seguir. Aula à tarde, trabalho manuscrito entregue, nota sendo aguardada, muita "farra" na escola. Volto e minha mãe me recebe com um dinheirinho na mão e a frase: "amanhã às 8 horas, você vá no SBORBA procure o "seo" Nacor e diga que eu lhe mandei ir lá".

Sabia eu lá o quê era SBORBA, mas fui. Um cenário meio triste, pouca luminosidade e uma escada que, lembrando agora, me parecia interminável. Subi e, chegando bem lá no alto, vi o paraíso: uma sala cheia de máquinas datilográficas, um senhor baixinho e magro, mais para careca que me recebeu cheio de atenção: "você é o James, filho da Floriza? Pode sentar aqui". E começou a me ensinar a arte da datilografia.

Meses depois, a prova final do curso: datilografar, no menor tempo, com o menor número de erros, o alfabeto brasileiro - até ali, somente as 23 letras.

Nervoso, mas confiante, fiz. "seo" Nacor corrigia as provas na hora, pois durante a tarde ele trabalhava no antigo CESEME. Olhou, olhou novamente, parecia não acreditar, me olhava e, finalmente, com um ar que dizia "menino filho da puta", me fala: "nunca, em todos esses anos, dei um 10 em uma prova; você não vai ser o primeiro. 9,75".

Furioso, fui até o trabalho de minha mãe lhe contar. Ela, claro ficou contente, mas eu, que antes de chegar lá já havia passado em outra escola de datilografia, feito minha inscrição em outro curso, apenas lhe falei: "ele não quis valorizar de verdade meu esforço, mas vou fazer outro curso no SENAC. Meses depois, 10.

Após a morte de minha mãe, meus cursos de datilografia me renderam a aprovação no primeiro Concurso Público que fiz e datilografei muito durante os próximos 4 anos.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Uma conversa "colorida"

Você já sabe que eu venho aqui contar as histórias que não conto para meu psicólogo, nem a alguns amigos e familiares; cenas que vivi, sonhei com um exagero de fantasias desconhecidas pelos mais alucinados.

Hoje me ocorreu a vontade de falar de Shakira e Alejandro Sanz. Por esta razão, a foto deles aí ao lado. Se eles têm algo a ver com minhas lembranças mais remotas, não. Mas que eles fazem parte de algumas histórias, isto é verdadeiro.

Além, sou fã do idioma deles. Me esforço a cada dia para aprendê-lo mais e mais.

Agora, a voz dessa mulher é coisa de louco. Claro, que não vou desrespeitar as moças que vêm aqui ler minhas insanidades e tecer comentários sobre meus desejos mais que secretos com a Shakira. No entanto, não deve ter nada de anormal, de repente, num ato de total ousadia, falar que gostaria de ser o Alejandro Sanz.

O cara é bonito. Sei. Você esperava que eu, numa atitude de machão, disesse que ele era "boa-pinta" ou coisa que o valha. Não, vamos falar a verdade: se eu fosse mulher, linda, famosa e vivesse na Espanha, eu dava pra ele. E seria sem acanhamento nenhum, sem limite de posição ou lugar. Faria um neo-Kama Sutra. A única exigência seria que ele contasse pra todo mundo depois. Afinal, qual a vantagem disso se não sair numa foto de revista de celebridades ´- sem que eles colocassem a legenda "Alejandro Sanz e amiga", que aí já é sacanagem com uma moça distinta como eu seria.

Só ia achar sacanagem sem tamanho se ele disesse: "te lo agradezco, pero no"". Daí, faria como muitas fizeram comigo: "al infierno!"

sábado, setembro 18, 2010

Pra quem gosta, catinga é cheiro!

Sempre atribuí esta frase a Chico Anysio. Acredito, que mesmo cheia de humor, ela encerra a verdade do amor: quem ama, não fica reparando em certos detalhes não tão formosos do outro, não leva em consideração seus mais estranhos defeitos, nem as cicatrizes que, porventura existam. Quem ama, ainda que não pareça a olhos distantes, não analisa o amado como um ser que deva ser compreendido por outros. Só ao amante cabe a profundidade de se saber capaz de amar a imperfeição e compensar o que pareça destoar.

Por vezes demasiado grandes me deparei com esse "dilema". Se, por um lado, teimava em procurar o que me parecia mais belo por outro, fui confrontado com meu estado de "mamulenguice" e, coisa de gente descerebrada, sofri com a ausência de atrativos físicos. Aprendi que se saber feio compreende capacidade de ser melhor que a concorrência, ter mais conteúdo e praticar, com todas as forças, "a arte da guerra”.

Não se desespere! Este blogue não é de auto-ajuda. Ou é. Para mim, somente. Ele me auxilia a suportar a solidão, o tédio, a falta de energia e a teimosia do meu corpo em oposição permanente ao cérebro. Ele é meu diário e essa conversa toda é pra contar outro momento da vida que recordei nos últimos dias.

Lembrei, em meio a tantas coisas, que previ, aos treze anos de idade que viveria somente até os trinta e cinco. E que agonia foram os trezentos e sessenta e cinco dias que antecederam! E não ficou aí. Como bom vidente, justifiquei o fato de continuar vivo com uma interpretação equivocada do tempo: restavam os trezentos e sessenta e cinco dias até os trinta e seis anos. Minha capacidade de criar crises vem de longa data.

Superada a amarga previsão, refleti sobre minha real condição com as mulheres. Meu corpo clamava por um contato com elas. Observando o movimento das meninas lá pela COHAB do Bosque, compreendi que jamais aconteceria ter uma namorada – esse era o verbo empregado mesmo: TER. Anos depois é que conseguiria montar a frase corretamente. Esposa, então, inteiramente improvável. Quase todas as noites, sentado em uma mureta na esquina da minha rua, lua sempre visível àquela altura, notava a chegada dos rapazes dentro de seus carros bonitos, suas roupas caras, sua música romântica, pensei: não é pra mim; não tenho carro, não sou bonito, não tenho dinheiro. Minha sina é permanecer sozinho.

Era preciso uma alternativa. Não estava disposto a permanecer sozinho. O que poderia ser feito para suprir a ausência do material e do belo? Aumentar o conteúdo que as encantava!

Passei a devorar as revistas destinadas ao público feminino, todas as fotonovelas disponíveis, revistas que falavam da rotina de atores famosos e as grandes polêmicas do primeiro beijo, da primeira vez; os testes sobre o par perfeito; dicas sobre comportamento sexual e por aí afora.

Aguardava ansiosamente a chegada das revistas toda semana. No dia certo, no momento exato, ia à casa da minha amiga e lia tudo, logo depois que ela o fazia. Era divertido, mas trouxe à tona a questão: como é que se beija? Acho que hoje em dia estas questões não estão mais importunando nenhum adolescente, mas estamos falando de 1979, época em que os meninos treinavam beijo no espelho ou com uma laranja. Falar a verdade? Preferia treinar no braço: tinha gosto de gente. Lia, guardava, treinava, planejava. E aguardava muito. E, tão idiota que era e sou, nem percebi que já surgira a pessoa desinteressada do palpável e ardendo para conhecer os caminhos tenebrosos das palavras, dos gestos, das promessas que não poderiam ser cumpridas, mas que faziam muito bem à alma.

Ela se chamava Tereza e não havia sequer reparado na existência dela. Baixinha, pele clara, cabelo aloirado, nada que chamasse a atenção. Invisível, portanto. Outras tantas vezes fui cobrado com a frase “eu era invisível pra você”. As mulheres guardam tantas coisas sem importância em seus armários!

A vez que notei a ausência dessa menina, ela já viajara há mais de um mês. Eu estava muito empenhado nos “estudos”; não havia como notar alguém. Era época em que, se nossos pais tinham condições financeiras, parentes em uma cidade maior, você ia “estudar fora”. Ensino fraco numa cidade pequena. Necessário criar oportunidades melhores. E Tereza chegara a este ponto da vida do adolescente acreano nos anos 1970.

As noites continuaram normais: as mesmas conversas com Américo e Raquel, a mesma paisagem, a mesma percepção sobre as meninas e seus namorados motorizados, as incontáveis horas de leituras, a exaustão pelo vai e vem dos assuntos nas revistas. Comecei a achar que estava preparado, mas precisaria “testar” se teria êxito na incursão.

Sentado na velha mureta de guerra, vejo a menina caminhando, corpo atraente - quase todos são aos treze anos de idade. Ao passar por mim, o “oi, James” soou como “eu sou invisível, você não”. Cabelo mais claro ainda, mas a mesma baixinha. Estava ali a cobaia? Não. Ela era linda e jogou por terra todo o estudo, todo o investimento, toda a minha pretensão. E trouxe à tona que a questão não estava nos carros, no dinheiro, na beleza – ou na ausência dela: eu era um covarde e não sabia como falar com uma menina, ainda que soubesse me expressar com certa correção gramatical.

Tempo de silêncio e solidão, diria um poeta romântico. Mas o foi mesmo! Alimentei a amargura com banquetes esplendorosos, tornei-a forte o suficiente para derrubar qualquer D. Juan, capitulei como um Comandante que vê o navio naufragar. Não sabia definir que sentimento era aquele, dei-lhe o apelido de paixão. Não mais sentei na mureta, mudara o local para a entrada da minha casa; era preciso vê-la passar para poder criar coragem e falar. Uma, duas, três, quatro vezes e... nada.

Uma noite, no início desta, perdidas as esperanças da passagem, já preparado para entrar, ela para, inicia a conversa com “oi, tudo bem”, fala coisas sobre a cidade onde estuda e não se cala, e não oferece oportunidade, e não parece respirar, e eu perco todo o conteúdo adquirido nas revistas, e quase nem percebo quando ela diz “já vou”. Num ato de ousadia “quixotiana”, digo “vou com você, é tarde”. Ela abre um sorriso, vamos até lá. Nada é dito. Beijo meio sem saber bem o que fazíamos. E percebo que os contos de fada são verdadeiros: as princesas beijam os sapos, ainda que estes coaxem desafinadamente.

terça-feira, setembro 14, 2010

Silêncio...Preciso pensar a respeito.

Não é que eu tenha medo da rejeição, ou de que, ao final, tudo seja como sempre: um conjunto de arrependimentos e decepções. Acostumei a desconfiar das paixões que crio como um colecionador de recortes de jornais imaginando  que, algum dia, todos as notícias serão necessárias para compreender momentos distantes da história.

Talvez seja a certeza de que meu amor é maior que sentimento e que sou inferior a criaturas microscópicas, vagueantes de corpos, sobre um colchão de molas cansadas, inertes e atérmicos.

Eu, que nada sei de amor, invento teorias, disserto sobre vagabundos sem ousadia e heróis desprovidos de espada salvadora. E confundo teus olhos verdes com as pérolas negras que são os d'ELA.

Minha mente se atreve a sonhar com o hálito de tua pele e, como gato sorrateiro fareja o acúmulo do lixo mal acondicionado em frágeis embalagens.

Não me peça atitudes, palavras esclarecedoras, não aguarde ousadias. Façamos silêncio: preciso pensar a respeito.



domingo, setembro 12, 2010

Um domigo a mais ou a menos

O fato de QUERER escrever é superior a qualquer outra vontade na vida. O que realmente causa estranheza é uma espécie de "crise de abstinência" que se instala vez ou outra. Não há prazer meramente em esparramar profundidades que serão analisadas, criticadas e relatadas a outras pessoas. O acme está em poder estilhaçar-se, arremessar os cacos aos quatro cantos da casa e cortar-se com um pequenino pedaço que escapou da varrição.

Contar o cotidiano, as lembranças, os sonhos, projetos, enfim, dissecar a alma na busca das frases, breves ou não, que delimitarão o espaço que o escritor ocupa no universo. É preciso cuidado ao analisar o escrito: há um universo dentro do escritor e só pode ser analisado em pequenas doses, atentando para cada espasmo seu.

Se de saudade se escrever, ainda todas as palavras serão poucas;  se de verdade, nunca será atingido o final. Daí, o sofrimento da escrita levar ao sofrimento do nunca estar bom.

E são tantas coisas que desejo dizer que volta e meia deparo-me com a absoluta incapacidade de fazê-lo e desnorteio o barco, mudo o curso do conteúdo, rompo a quilha e não ondas.

Escrever sem estilo e sem pretensão - não busco o best-seller, já o disse - me faz sentir incompleto, mas cada dia mais humano. Vou errar muito, eu sei, mas que importa? Há um salva-vidas nas palavras que atiro e retornam a mim como um bumerangue. 

E, ainda quando tentam interpretar, digo que os segredos ali estão ocultos e você sem capacidade de enxergá-los, pois que nem mesmo eu posso.

quinta-feira, setembro 09, 2010

terça-feira, setembro 07, 2010

Talvez não dê tempo para mim, mas...

Cientistas desenvolvem rim implantável

Equipe cria primeiro rim artificial que poderá ser implantado em humanos

por Redação Galileu



Rim artificial ainda tem o tamanho de uma sala, mas cientistas estão trabalhando para reduzí-lo.Pela primeira vez, uma equipe de cientistas conseguiu desenvolver um rim artificial que poderá ser implantado em seres humanos. Ele será capaz de substituir as seções de diálise e as longas filas de espera por um transplante.



A equipe da Universidade da Califórnia anunciou nesta semana que conseguiu desenvolver um protótipo funcional do rim, mas ainda em grande escala – o dispositivo é quase do tamanho de uma sala. Eles pretendem usar os processos usados na fabricação de chips de silício para reduzir o órgão artificial para o tamanho de um órgão natural.



É a primeira tecnologia deste tipo que poderá ser reduzida e implantada em doentes. Os cientistas usaram as mais modernas técnicas da nanotecnologia e da geração de tecidos para desenvolver o sistema.



O dispositivo usa milhares de filtros minúsculos para retirar as impurezas do sangue. Enquanto isso, um cartucho feito de células renais artificiais deverá copiar outras tarefas dos rins, como seu papel metabólico. O sistema usará a força da pressão sanguínea do próprio paciente para fazer o filtro funcionar e bombear o sangue.

domingo, setembro 05, 2010

"Beber deve ser sem motivo"

A primeira vez que estive em Recife, cidade que amo pelas pessoas, seu sotaque, um jeito que considero diferente de ser brasileiro, fiz da viagem a coisa idiota de turista vindo do interior da Amazônia, mas acabei visitando uma casa de cultura que anteriormente era uma prisão. Na verdade, era um conjunto de lojas com artigos característicos do folclore local, da cozinha pernambucana. Enfim, era um encontro com o "recife way life". Os endereços eram informados assim: loja de sucos na cela 102 e assim por diante.

Foi lá que provei pela primeira vez um suco de acerola, fruto que nunca havia visto por aqui e provei outros tantos que, infelizmente, foram esquecidos. Lembro da moça simpática e sorridente - diria que era linda, mas eu era muito jovem e estas avaliações são recheadas de hormônios nessa fase.

Acredito que visitar nas cidades os "pontos turísticos" famosos faz parte da viagem, mas não nos permite dizer que conhecemos a cidade. Para tal, é preciso sentir o "cheiro do povo", ainda que, por vezes, não seja tão agradável em alguns lugares. Foi assim quando estive na Bolívia  a primeira vez: optei por ir a um mercado local, provar da comida, conversar, ainda que nessa fase em "portunhol", com os patrícios. Saí do local com a sensação clara de ter conhecido todo o país, embora tivesse visitado uma pequena cidade.

Mas, voltando ao Recife, e desta vez disposto a realizar nova etapa do conhecimento, acabei por ter grandes momentos de depressão. A escolha do período para a viagem, se posso chamar "escolha" já que estava fugindo um pouco de problemas e frustrações, levou-me a buscar alternativas de conhecer outras formas de organização. Desta vez, em um bairro em que necessitava apenas de cinco minutos de caminhada pra chegar à praia de "Boa viagem", numa manhã, resolvi dar uma circulada pelos quarteirões próximos. Vi quatro academias de ginástica, alguns restaurantes - tinha até restaurante típico do Pará, quatro bancas de revistas. Era dia sem praia, então o segredo era: comprar uma revista, depois almoço e volta pra casa.

Chegando lá, descubro que as bancas de revistas funcionavam como os "botecos" em Rio Branco, com o acessório da informação prensada; ponto de encontro para se beber, conversar e ficar infomado. Numa destas, conheci o vendedor Aldo, torcedor caloroso do "Santa Cruz" que me apresentou outro cliente seu, Sebastião Nelson, de quem, de imeditado, tornei-me amigo.

E passamos muitas manhãs nesse árduo ofício de acordar, ir tomar o café da manhã na banca de revista do Aldo, beber bastante - eu, skol; ele, whisky, e falar sobre todos os assuntos como grandes sociólogos discutindo temas diversos.

Passadas algumas semanas e tomado pela lembrança constante do que me esperava na volta para Rio Branco, fui até a banca e... Nada de Sebastião Nelson, nada de alegria, tudo de tristeza. A cerveja de sempre e uma falta inusitada de vontade de conversar. Beber era o que interessava pra esquecer o mundo.

De repente, como nestes casos de aparição de "espíritos superiores", um senhor calmamente diz "bom dia", senta, pede uma cerveja gelada e Aldo, falante como sempre:

- James, esse é "seo" Nelson, pai de Sebastião.
- Como vai, "seo" Nelson?
- Tudo bem. E você, parece meio abatido.
- É verdade. Problemas demais.
- Sim. É motivo pra beber. Nunca beba se tiver motivo. Beber deve ser à toa, em vão, só pelo ato e o prazer de beber.

A estas palavras nada havia a contestar, debater ou desmerecer. Assim, continuamos a conversa, esquecidos os problemas, e nos embriagamos até o final do dia.

"Seo" Nelson não vi mais; a lição ficou.


sexta-feira, agosto 27, 2010

O Kichute

Recorri à Wikipédia - e como tem informação de tudo lá - para lembrar a experiência de usar um Kichute.

Kichute é um calçado, misto de tênis e chuteira, produzido no Brasil desde a década de 70 pela Alpargatas, teve seu ápice entre os anos de 1978 e 1985, quando suas vendas ultrapassaram 9 milhões de pares anuais.

Feito de lona e solado com cravos de borracha, todo ele preto, virou mania entre os meninos, pois era usado tanto para ir à escola quanto para a prática do futebol, ainda mais depois da conquista do Brasil da Copa do Mundo de 1970. Devido ao seu grande cadarço, era comum entrelaçá-lo na canela antes de amarrá-lo, ou mesmo dar voltas nele próprio, passando pelo solado.
Foram lançadas bolas de futebol de salão e de campo com a marca Kichute.

Com a entrada de modelos importados de tênis, suas vendas despencaram, mas o Kichute nunca deixou de ser produzido. Atualmente, devido ao revival dos anos 70 e 80 na moda, muitos estilistas famosos estão utilizando o Kichute em suas coleções.

Em São Paulo, na década de 1990, fazia parte dos uniformes dos garis da prefeitura.

E eu, lá pelos 11 anos de idade comecei a cursar o que chamávamos de "Ginásio", 5ª a 8ª séries e, obrigatoriamente, o uniforme era com o famoso sapato-chuteira. Tanta confusão fiz na cabeça de minha mãe por não querer usar que ela se viu obrigada a comprar outro tênis, não sem antes consultar a direção da Escola pra saber se era possível.

Calcule a dor que um chute com esse sapato causava. Acho que daí escolheram o nome, porque "que chute"!

Enfim, consegui não ter que usá-lo, troquei por um outro chamado "Montreal" que era desprovido das travas comuns às chuteiras.

Nunca usei, se bem lembro, os tênis "Bamba", mas o também famoso "Conga" faz parte da minha história.

Dias felizes para os meus pés que passaram a infância toda usando bota ortopédica, só vieram quando ganhei meu primeiro "Puma" e o inesquecível "All Star", cano alto que chamávamos de "All Star bota".

Mas essa é outra história com um tênis vermelho com cadarços pretos.

Meu Deus, quanto mal gosto eu tinha!

quinta-feira, agosto 19, 2010

O outro lado


Quando foi que aprofundei o pensamento sobre um assunto qualquer, que me ofereci a oportunidade de errar, de pedir desculpas, de me perder em divagações?

Em que tempo foi que esqueci de ouvir, de eternizar num toque, numa palavra, num cheiro, num olhar?

Quando me perdi do caminho e ri, despudoradamente, da minha cara de otário que imaginava que sabia o caminho?

Nunca olhei o outro lado do quadro!

quarta-feira, agosto 18, 2010

Já assistiu à série Scrubs?


Pra começo de conversa, já é sensacional, em tempos de alta tecnologia, que um diretor opte por usar uma única câmera pra contar a vida profissional e pessoal de personagens que trabalham em um hospital. Cheio de um humor refinado, faz pensar nas outras séries médicas com suas crises existenciais e seus problemas intermináveis.

Em Scrubs, os personagens são bem mais reais e despreparados como médicos, vivendo tolices e paranóias. Claro, como boa série norte-americana, no final sempre há aquele tom de "moral da história", mas diverte mesmo assim.

Isto tudo me leva ao nada novo pensamento sobre o comportamento de médicos como "semi-deuses". De fato, quem escreve a série deve ter experiências não tão boas com os cirurgiões, pois eles são retratados como um grupo de babacas que se acham melhores que os clínicos. Há que se pensar que os clínicos têm a primeira missão: diagnosticar as enfermidades e, se necessário, encaminhar à cirurgia.

Durante os últimos quatro anos tenho sido assíduo frequentador de hospitais e consultórios médicos. Devo revelar que a série mostra a realidade do serviço de saúde, ao menos o que conheço bem aqui do Acre: uma enorme guerra de egos deixando o paciente em estado de terror. Um parêntesis pra esclarecer que na Clínica de Hemodiálise somos chamados de clientes. Eu não quero ser cliente deles, sou um paciente mesmo. E haja paciência pra suportar o tratamento e seus condutores!

E, assim como na série, perceber como os Residentes são tratados como time de futebol da segunda categoria: têm até torcida, mas não enchem estádio. E vão se aventurando em área tão delicada que é a manutenção da vida. Sim, há um médico na série que diz: "o que fazemos é abreviar a morte". E isto também é sensacional, coloca o profissional como ser humano novamente.

Como forma de relaxar antes de cada sessão costumo conversar muito com outros pacientes e seus familiares sempre ouvindo a mesma história: "esses médicos não contam nada pra gente, não dizem como está sendo o tratamento, nem nos dão esperança de nada".

Será que seria importante o médico se mostrar mais compreensivo com as dificuldades de cada um do que seguir uma bula que tenta universalizar o tratamento?

Sei lá. Só estou me divertindo muito em assitir afinal, I'm no Superman!

Um passeio pela felicidade alheia


Quinta-feira comum. Uma sensação de abafamento tomando conta da cidade e resolvo sair pra encontrar duas amigas. Como acredito que elas podem se atrasar, fico o máximo de tempo possível no caixa eletrônico até que a paciência se esgota. Vou ao Mercado Velho, local combinado para o encontro. Observo, mais uma vez, o quanto gosto desse lugar: um misto de passado com modernidade arquitetônica e dedico algum tempo a perceber:  detalhes das construções, pessoas, a me perceber.

Neste processo, um casal me salta aos olhos: são adolescentes, ainda, em uniforme oficial das escolas públicas que, estranhamente, conversam muito baixo. Desconheço os motivos que levam os adolescentes sempre a gritar. Talvez, para demarcarem um campo no concorrido território chamado vida.

Logo já estou interessado em praticar meu mais delicioso exercício: imaginar quem seriam estas pessoas, do que gostam, o que planejam, os sonhos que teimam em ter. 

Levantam, caminham até uma lanchonete e voltam com um refrigerante. Necessário dizer que é Coca-Cola? Qual outro eles prefeririam. Retornam ao local, servem refrigerante a um senhor em um banco um pouco à esquerda, sentam-se novamente. E conversam longamente. À interpelação de um policial, respondem com a presença do senhor sentado. E são intocáveis, resguardados de incômodos.

Penso agora que eles são felizes. Felicidade é momento raro. Este é um.

terça-feira, agosto 17, 2010

Das informações inúteis

Em 05/01/2007, morreu o inventor do macarrão instantâneo. Em 3 minutos prepara-se uma refeição. Sem nenhuma possibilidade de uma boa nutrição, mas preenche o vazio do estômago.

Dizia ele que teve a idéia a partir da visão de umas pessoas longo tempo na fila pra conseguir um prato de sopa de macarrão após o fim da Segunda Guerra Mundial e concluiu que "só haveria paz no mundo quando o povo tivesse comida suficiente". Se um pacote de "miojo" é comida e suficiente, isto já é outra história.

Momofuku Ando morreu aos 96 anos, de um ataque cardíaco.

segunda-feira, agosto 16, 2010

Enquanto uma escolha é possível

Felicidade é um momento perdido na linha do tempo! De modo maniqueísta, dividiria em dias que estamos felizes e infelizes. Sendo bem otimista, cento e oitenta e dois dias e meio de felicidade por ano.

Mas há um dia em que ficamos felizes e infelizes ao mesmo tempo! Quando nos apercebemos que precisamos despudoradamente dizer para alguém: how wonderful life is, while you're in the world.

É bem aí que descobrimos que tudo começa e tem fim.

Boa semana a todos!

quinta-feira, agosto 12, 2010

De ônibus

Detesto "ir de ônibus" a qualquer lugar. Não só por minha claustrofobia; esta é bem controlada. O espaço parece pequeno demais pra acomodar meus 52 Kg distribuídos em, não mais, que metro e setenta e cinco. É um esfrega aqui, encosta ali insuportáveis. Meu cérebro precisa autorizar pra que meu corpo seja tocado. Houve vez em que, de tanto ser incomodado, desci cinco pontos antes e fui a pé.

Lembro, ainda no meu segundo trabalho, que tomava o ônibus por volta das seis e trinta da manhã pra chegar até a Universidade Federal. Era horário de muito movimento. E foram entrando pessoas entrando pessoas entrando pessoas. Li que a lotação eram 30 pessoas sentadas e, sabe-se lá Deus, milhares em pé.

Tinha uma solenidade por lá, coloquei uma roupa de ir à missa afinal, ia receber uma Portaria de Elogio do Magnífico (!?) Reitor e queria parecer menos desagradável ao olhar.

Tomei cotoveladas, empurrões, fui "colado" àqueles ferros para apoio e fiquei igual a dançarina de pole. E o cheiro de perfumes diferentes. E o cheiro da falta de banho.

Finalmente, o ônibus se aproxima da entrada do Campus e começo a aliviar: eu desceria no primeiro ponto.

E assim foi. Paramos, posicionei-me em frente à porta e pensei: ao menos cheguei, nada mais pode acontecer. Coloquei o pé direito no primeiro degrau e deram uma cusparada no meu sapato.