quinta-feira, setembro 23, 2010

Máquina de escrever

Amo tecnologia, apesar de não ser um especialista. As facilidades são tantas, a velocidade dos contatos, a chegada da informações, tudo em segundos. Tenho a vantagem de me adaptar a coisas novas - pelo menos a algumas.

Agora mesmo, enquanto digito, faço em um "notebook", conectado 24 horas; acompanho a chegada de mails imediatamente, envio novas mensagens, corrijo o texto sem grandes demoras.


Mas, nem sempre foi assim.

Lembro que, por volta dos 12 anos, vi uma máquina de datilografia pela primeira vez em minha casa, sendo usada por uma das várias namoradas de meu irmão. Fazia ela um trabalho para ele e ví aquelas letras tão bonitas numa folha de papel sem vida há pouco e pensei: "poderia pedir pra ela fazer meu trabalho de escola; ia ficar bonito e poderia melhorar minha nota". E, olha, eu precisava mesmo melhorar a nota!

Pedi e a resposta foi um coice digno de cavalo indomado.

Lembro de ter chorado muito, mas não lembro se pela "patada" ou por ter um desejo simples não atendido.

Minha mãe - sempre ela - sem saber do assunto, pergunta o que aconteceu. Respondi meio sem jeito, pois já passara a achar idiota sofrer por essa bobagem. Mas, minha "velha", que na verdade era nova até quando morreu, apenas falou-me: "deixe, meu filho." As mães falam umas coisas que a gente só pode compreender milhares de anos depois.

A vida tem que seguir. Aula à tarde, trabalho manuscrito entregue, nota sendo aguardada, muita "farra" na escola. Volto e minha mãe me recebe com um dinheirinho na mão e a frase: "amanhã às 8 horas, você vá no SBORBA procure o "seo" Nacor e diga que eu lhe mandei ir lá".

Sabia eu lá o quê era SBORBA, mas fui. Um cenário meio triste, pouca luminosidade e uma escada que, lembrando agora, me parecia interminável. Subi e, chegando bem lá no alto, vi o paraíso: uma sala cheia de máquinas datilográficas, um senhor baixinho e magro, mais para careca que me recebeu cheio de atenção: "você é o James, filho da Floriza? Pode sentar aqui". E começou a me ensinar a arte da datilografia.

Meses depois, a prova final do curso: datilografar, no menor tempo, com o menor número de erros, o alfabeto brasileiro - até ali, somente as 23 letras.

Nervoso, mas confiante, fiz. "seo" Nacor corrigia as provas na hora, pois durante a tarde ele trabalhava no antigo CESEME. Olhou, olhou novamente, parecia não acreditar, me olhava e, finalmente, com um ar que dizia "menino filho da puta", me fala: "nunca, em todos esses anos, dei um 10 em uma prova; você não vai ser o primeiro. 9,75".

Furioso, fui até o trabalho de minha mãe lhe contar. Ela, claro ficou contente, mas eu, que antes de chegar lá já havia passado em outra escola de datilografia, feito minha inscrição em outro curso, apenas lhe falei: "ele não quis valorizar de verdade meu esforço, mas vou fazer outro curso no SENAC. Meses depois, 10.

Após a morte de minha mãe, meus cursos de datilografia me renderam a aprovação no primeiro Concurso Público que fiz e datilografei muito durante os próximos 4 anos.

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