quinta-feira, novembro 04, 2010

Regressão a vidas passadas

Eu tenho várias amigas que fizeram um trabalho de regressão a vidas passadas e, coincidentemente, todas foram Cleópatra em alguma de suas encarnações anteriores. O que mais me intriga nessa história de gente que começa a remexer no passado metafísico é que ninguém quer ser o “Zé povinho”.  Todo mundo foi um grande rei, uma duquesa, um artista genial. Cheio de dúvidas e curiosidades resolvi conjugar o meu pretérito para ver se também era “mais-que-perfeito”. Descobri que fui Noel Rosa há uns anos atrás, ao mesmo tempo  em que acumulava as funções de Charles Chaplin e Greta Garbo. O fato de eu ter tido três encarnações simultâneas é explicável, pois, certas almas são tão grandes, mas tão grandes que, às vezes, precisam de mais de uma embalagem. Como se viu no filme sobre a vida, ou melhor, sobre uma das vidas do Dalai-Lama. Não fui Cleópatra, como vocês poderiam imaginar. Fui Julio Cesar e comi todas elas e eram várias. Lá pelos idos do século XV voltei Leonardo da Vinci. Tive também minha fase de navegador na pele de Cristovão Colombo. Mas, cansei do mar. Peguei  um tal  enjôo de navio que hoje em dia só viajo de avião, aliás, veículo que inventei quando encarnei Santos Dumont. Houve uma época em que estive Faraó. Reinei sobre o Egito com o nome de Quéops e, durante esse período, acumulei uma fortuna considerável. Mandei construir a enorme pirâmide de Gizé, modéstia à parte a maior obra de engenharia da história da humanidade, e ordenei que junto o com meu corpo mumificado fosse enterrada boa parte do meu tesouro. Mesmo com todas as evidências, até hoje não consegui convencer ninguém de que tudo aquilo me pertence. Ocupei a presidência dos Estados Unidos em mais de uma oportunidade e, apesar de haver sido assassinado duas vezes, não desisto: eu sempre volto. Mas ando meio cansado de política. A minha próxima encarnação tô pensando em viver novas emoções. Talvez um cantor de Rap ou um piloto de Fórmula 1. Não quero me estender em mais detalhes para não aborrecer vocês. Só gostaria de encerrar dizendo que viajar pelo meu passado foi uma experiência fascinante. Voltar no tempo através de uma regressão é muito bom porque a gente vai revendo os velhos amigos, despertando antigas paixões mas, infelizmente, chega uma hora que começa a bater um cansaço e a memória vai ficando embaçada. A última coisa que consegui enxergar foi o momento de uma das minhas mortes há mais ou menos uns dois mil anos quando eu estava de braços abertos numa cruz gritando pro meu pai.  E não vou nem dizer o nome do velho pra vocês não pensarem que eu tô aqui querendo me exibir.
Kledir Ramil

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