sábado, outubro 02, 2010

Marina de todas as cores

Por volta dos anos 1982-83 tive contato pela primeira vez com a política. Nesse momento, com a estudantil e a partidária, ao mesmo tempo. Era período que se engatinhava em busca do fim do regime ditatorial, período de partidos clandestinos, propostas de socialismo e modelos que, àquela altura, eram considerados exemplos a serem seguidos. De lados claramente opostos, com pontos que encontravam certa intersecção, estavam dois partidos, que lembro, citavam a Albânia como paraíso socialista e, de outro, Cuba. Esse era o resumo que minha cabeça de menino interessado em coisas menores conseguia atingir.

Até hoje, por falta de maior interesse, não faço a menor idéia de onde seria a famosa Albânia e Cuba, evidentemente, que continua sendo um mau exemplo a ser seguido, tem maior relevância em minhas memórias.


Não tive e, ainda que tivesse não o faria, complementação aprofundada sobre suas diferenças administrativas, seus pontos de vista, seus ícones, seus ideais de sociedade igualitária. Muito disto me interessava assim como pouco me tomava à paixão.



Foto da Folha de São Paulo
Foi em meio a estas pequenas disputas de pontos-de-vista que me vi envolvido com pessoas que hoje ocupam o poder estabelecido na forma da legislação do País; que estavam dispostas e preparando-se sempre para um confronto que poderia ir além das idéias e atingir o campo das disputas armadas.


Não era minha função entender a fundo nenhuma destas questões até então. Cabia a mim, ajudar a preparar um grupo que estivesse pronto para propor causas diferentes quando o momento certo chegasse. Foi assim que conheci os amigos que até hoje fazem parte do meu pequeno círculo de amizades: Edson, Natal, Fran, Anna, Nonato, Tania, Jair, Arimatéia, Evandilson e outros tantos que a memória me trai.

Esta mesma época foi a de conhecimento de Marina Silva, Binho Marques, Marcos Afonso, Carioca, Cardoso e, mais uma vez me trai a memória ao esconder tantos outros nomes, mas que se encontram fazendo a política partidária, comandando administrativamente o estado do Acre. Alguns outros surgiriam nos anos finais de 1980.


Dez anos depois, por decisões que de maneira alguma compreendo, uma terceira pessoa foi colocada sobre o cume da política acreana, sendo eleito prefeito da capital acreana para, em seguida, tornar-se governador. O sonho parecia tornar-se realidade. Finalmente, teríamos as possibilidades concretas de transformar as palavras em ações. Era chegado o momento de fazer valer o que se planejara por longos anos, em infindáveis reuniões de estudo.


Seria injusto de minha parte dizer que não aconteceram avanços, melhorias físicas das cidades, melhoria no respeito aos servidores públicos, abertura de possibilidades de crescimento comercial e, agora, propõe-se a “industrialização do Acre”.


Lembro de certa vez ter ouvido de Marina Silva – e não tenho a pretensão que ela lembre nem que leia tal texto – que “tínhamos que aprender que nem todas as pessoas podem ter condicionador de ar, pois o meio-ambiente será destruído mais ainda”. É esta frase que não me sai da cabeça hoje, véspera da eleição para presidente da República em que, em meus sonhos mais absurdos jamais poderia imaginar aquela menina negra, magricela e um tanto “gasguita”, que já falava e as veias saltavam-lhe no pescoço, estivesse disputando de maneira corajosa e eficiente uma corrida presidencial.

Imagino, ainda que distante, o desafio que enfrenta essa mulher: lutar para mostrar que seu discurso é maior que o da preservação do meio-ambiente. O quê tem de suportar para mostrar que todas as ações estão vinculadas a este mesmo meio-ambiente – que, aliás, deveríamos passar a chamar só de ambiente. É o nosso ambiente de moradia, ainda que você concorde com Marina em sua fé em vida após esta. Se for assim que você pensa, sabe-se “cidadão do Céu”, mas morando na Terra, por enquanto. E, se você é visitante aqui, se este planeta te hospeda enquanto chega a hora de voltar para casa, não pode querer destruir a decoração da casa.


Há quem grite a plenos pulmões que “ela é da selva”; não é. É do campo e da cidade; é do Brasil e do Mundo; da Terra e do Céu. O mundo de Marina não é azul, nem rosa, nem verde. Nele, todas as cores são permitidas e é lá, no final desse arco-íris que reside o pote de ouro.

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