segunda-feira, outubro 11, 2010

Que título poderia eu dar?

Há coisas que jamais compreenderei: por que pessoas que amamos têm que morrer; por que não ficamos felizes todos os dias; por que nos sentimos culpados mesmo sabendo que não somos responsáveis por todos os males que se abatem sobre nossos queridos; por que os outubros continuam vindo e indo indiferentes a nossa vontade.

Foi num janeiro que tudo começou. Cheguei em casa para o almoço em um dia normal de trabalho, num tempo em que ainda conseguia ir almoçar em casa, sem problemas de trânsito, sem correrias, sem angústias. Não havia uma mesa digna para que sentássemos e fizéssemos a refeição, mas era em paz que nos alimentávamos, sem sobressaltos. Foi abaixo de um prato que aquela menina que, aos dezenove anos casara comigo me perguntando se poderíamos esperar uns dois anos para termos um filho, me entregou o resutado do exame: estava grávida. Confesso não recordar se havia alegria em seu olhar. Havia esperança no meu e a dúvida: saberei ser pai?

Conversamos como conversam os recém-casados, tomados de espanto, mas sabedores que aquela era a sequência da vida: seríamos pais, independentemente de não termos cumprido o compromisso de aguardar o tempo estipulado. Bastava saber que haveria uma nova vida ali.

De imediato, pensei e falei que seria uma menina. Como saber, se o exame havia sido feito nesta mesma manhã? Eu sabia e pronto e me dispus a escolher um nome. Não houve preparação alguma, a escolha era tão absurda àquela altura quanto imaginar que havia um ser ali, sendo gerado.

Após o almoço, folheei uma revista enquanto pensava como a notícia chegaria ao restante da família, se haveria alegria em saber ou se a preocupação seria maior. Deparo-me, em folha dupla com o nome ISABELLA. Uma reportagem sobre Isabella Rosselinni. Achei o nome bonito porque saia de uma insuportável mania de "Isabele". O nome chegara pronto. Isabella somente, nada de nome composto, nada de invencionices, bastavam os dos "l" que tinha decidido para que a estranheza se completasse.

Isabella nasceu em 11 de outubro de 1991 e sobreviveu à imperícia de um médico até o dia 15 de outubro. A saudade e a lembrança dela, me perseguem, ainda que me tenha habituado a não comentar até hoje e pelos, espero, longos anos que ainda me restam.

(A título de informação, sempre "adivinhei" o sexo dos meus filhos ainda no início da gravidez.)

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