sábado, janeiro 09, 2010

Uma lembrança (Uma explicação?)

Não sei bem o que você entenderia diante disto, mas acordei com vontade de contar neste espaço, que é o diário de minhas lembranças também, uma das minhas recordações da presença de meu pai, e só são duas que possuo. Deveria ter por volta de dois anos de idade, portanto, o ano seria mil novecentos e sessenta e oito. Isto! Período de intensa repressão, fato que sei por ter crescido e estudado e conversado com pessoas que atravessaram esse período. Ele, meu pai, militar do que chamamos hoje de ex-Guarda Territorial do Acre, homem extremamente dedicado a conter os "levantes" que porventura pudessem surgir neste canto tão distanciado do Brasil parecia demonstrar um grande carinho por este filho, o mais novo deles e, sempre, ao chegar para o almoço, permitia que eu exercitasse um dos meus momentos favoritos àquela altura: tirar os cadarços de seu coturno. Dava trabalho, mas era prazeroso fazê-lo. Lembro minha mãe servindo-lhe o almoço e, na sequência, dele colocar-me em seu colo e oferecer a mim também. Coisa corriqueira entre os pais e os filhos pequenos que distinguem mal a necessidade de se alimentar e a gula. O cardápio era um frango cozido, prato que gosto muito até hoje. Numa  das vezes que ele me ofereceu o alimento, engasguei com um osso de frango. Lembro da agonia, do desespero de tentar respirar e não poder; lembro do peso de sua mão a bater em minhas costas na tentativa de resolver o problema; lembro de chorar após conseguir desengasgar; lembro dele sentar e me oferecer como prêmio por permanecer vivo, uma surra inesquecível. Por que contei isto? Talvez pra dizer que um dos meus maiores medos é a asfixia. Sempre que a tensão me invade, somatizo na respiração, tenho pavor de regurgitar e, muitas vezes, não como por não conseguir engolir. Há dores que são pequenas, entretanto, dizem muito, coisas que não entendo e que me consomem na busca da compreensão. E meu psicólogo (assim, em minúsculas) achando que pode me ajudar a entender o mundo!

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