terça-feira, agosto 10, 2010

Quando Maria Rita canta "Santa Chuva"

Se existe um fenômeno que não compreendo, que, talvez, me provoque uma certa inveja, é quando vejo fãs em shows chorando com interpretações de seus cantores prediletos. Há muitos e grandes artistas que fuçam no armário dos meus sentimentos, que provocam em mim um desespero de esperar por nada e tudo, por alguém e todos, mas sempre guardei bem as lágrimas. Lembro de não ter conseguido num especial com Elis Regina apresentado na TV após sua morte. Eu ali sem compreender como seria viver sem alguém que rondava os amores que eu inventava e aquela mulher com maquiagem borrada, em pranto e desespero, dizendo "quando olhaste bem nos olhos meus e teu olhar era de adeus, juro que não acreditei, eu te estranhei, me debrucei sobre teu corpo e duvidei".

Estava sentado no chão da minha casa e não ousava virar, não conseguia enfrentar o olhar de minha mãe, não havia coragem para demonstrar que sofria. Lentamente, levantei e tomei a decisão, no estilo mais profundo e drámatico de Scarlett O'Hara, de nunca mais chorar. E um ódio crescente a Chico Buarque, que podia escrever de maneira tão lindamente absurda. E odiava o homem que a abandona. E odiava a mim por tanta dor.

Porém, essa sensação angustiante que abandonei volta com força redobrada quando escuto Maria Rita cantar "Santa Chuva". E uma parte de mim quer odiar Marcelo Camelo que vem sem deixar claro aonde quer chegar, com suas frases de "vai chover de novo, eu vi na tevê que o povo já se cansou de tanto céu desabar". E vai levando a mim, arqueólogo de minhas dores, a escavações cada vez mais profundas. E sofro com a mulher que não chora mais. "A chuva já passou por aqui; eu mesma que cuidei de secar". E me irrito junto com ela. "Cadê aquela outra mulher? Você me parecia tão bem." E questiono mais uma vez a verdade. "Foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez?" E fica impossível não querer que meu coração se entregue à tempestade.

Nenhum comentário: