domingo, novembro 29, 2009

Porque hoje é domingo

Abro o portão. A casa está demasiadamente silenciosa. Meu irmão encontrou meio por acaso uma infecção na garganta e os sobrinhos estão ou dormindo ou fora. Nem som de televisor ligado há. Até Álamo resolveu não tocar, mesmo depois que o time dele ficou em primeiro lugar no campeonato brasileiro. Ouvi qualquer rock em um som auto-motivo, mas foi breve. Um cão negro de cara branca passou tranquilamente enquanto os outros, aprisionados em casa, ladraram até não mais poder. Essa falta de compreensão de territorialidade canina me enlouquece! As vizinhas da casa em frente, que são silenciosas mas recebem muitas visitas, resolveram sair. É justo, está bastante quente. Acredito que mais de  trinta e tres graus às nove da noite. Muitas moças passando, bem arrumadas. Vão à Igreja. Levam a Bíblia. Os rapazes, são poucos. Ou já estão lá ou conhecem um caminho mais curto ou não vão. Não sei quantas igrejas existem no bairro. Se forçar um pouco a memória talvez consiga lembrar de quatro ou cinco. Cada uma com forma diferente de enxergar Deus. Um casal a pé: ela, levando uma sacola plástica, é magra e pareceu-me não ter mais que dezenove anos; ele, empurrando uma bicicleta. Por que eles não vão juntos na bicicleta? Tem quem goste de caminhar. Ou talvez tenham discutido antes, pois vão calados. Quer dizer, não se escuta as vozes, mas certamente discursam longamente. Olhar diz muito. Mas eles não se olham. Pelo horário e forma, deve ter sido uma visita à casa da sogra. Partida de futebol. Time derrotado ou vitorioso, não importa. Visita à sogra sempre termina do mesmo jeito: voltam para casa silenciosos, como se as palavras estivessem esgotadas. O mesmo frango ao molho para o almoço, a mesma cerveja pouco gelada, as mesmas piadas, o mesmo co-cunhado que ganha bem e comprou um carro novo. E a velha bicicleta. O jantar é, sem dúvidas, o conteúdo da sacola plástica. Nenhuma criança. Onde estarão as crianças? Elas costumavam brincar em frente às casas. Ficam guardadas da violência das ruas ou acharam brinquedos mais interessantes? E o que é mais interessante do que brincar de pera, uva, maçã? Não lembro de ter sido escolhido nenhuma vez nessa brincadeira. O sapo sonhando novamente em ser príncipe. A casa é na esquina no começo do bairro. Muito se vê morando assim. E se imagina outro tanto sendo invisível, inaudível, atérmico...

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