quarta-feira, dezembro 23, 2009

Colheita Feliz

Prometi que aqui seria o local para minhas lembranças e dizer o que realmente penso, mas há coisas que não consigo ficar sem meter o bedelho. As famosas “redes sociais” e seus “joguinhos” conseguem sempre me surpreender. No Orkut, agora, uma nova febre tão poderosa, que tomou conta de todos: o jogo “Colheita Feliz”.

Em seu primeiro contato com esta “ferramenta” você é convidado a montar uma fazenda e fazer suas plantações. Isto significa que você precisará ter algum “dinheiro” para comprar as sementes. Até aí, tudo bem: não há como empreender sem investimento. Na sequencia, você é orientado a plantar as sementes e, certamente, terá que cuidar desta plantação a fim de que ela cresça gerando uma fonte de renda. É mais ou menos como você cuidar daqueles bichinhos eletrônicos que surgiram uma época, vindos do Japão, eu creio, e que inclusive poderiam morrer, mas que no futuro lhe renderá alguma “riqueza”.

Já compradas as sementes e feita a semeadura, eis que surge a terceira orientação: VOCÊ PODE USAR A FERRAMENTA MÃO PARA COLHER AS PLANTAÇÕES MADURAS E ROUBAR DE SEUS AMIGOS. Isto, em linguagem inteligível quer significar que você não só é orientado a ser um empreendedor agrário, mas um ladrão agrário, aproveitando-se do trabalho de seus amigos. É como o velho coronel levando a cerca sempre mais pra dentro da propriedade de seu vizinho mais fraco ou mais ingênuo.

A certa altura das orientações, é indicado a você que pode enviar flores aos seus amigos, aumentando sua popularidade. Ou seja, o deixe plantar, roube tudo que ele possuir e você conseguir levar, depois envie flores para ele gostar de você. Você pode também invadir e bagunçar toda a fazenda arduamente trabalhada por seu amigo. Invasão de propriedade para vandalismo também está autorizado. Mas, cuidado! Como é avisado a você “às vezes não é fácil ser um ladrão”. Este é um daqueles conselhos que certamente as mães de alguns políticos teriam dado a eles.

Mas o conselho final é incentivador: “Ao invés disto (roubar), você pode se tornar um bom amigo ajudando eles a tirarem as pragas e pestes de sua fazenda”. Quantos fazem isto?

Parabéns a você que respondeu “nenhum”! Isto. Ninguém se importa de fazer este treinamento para espertalhão via Orkut. Todo dia, escuto os comentários ao derredor de “eu roubei os perus da fazenda de fulano”. “E ovos, conseguistes alguns?” “Esperei mais de 20 minutos pra plantação de beltrano ficar madura, mas perdi a oportunidade de roubar!” “Eu consegui ainda roubar um pouco”. E estes diálogos vão se perpetuando, calmamente, sem que nada seja tomado como preocupante. E note: você rouba os seus amigos!


A neurociência diz que "aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido através da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente".

Por enquanto, tenho conseguido livrar minha Marina destas “redes sociais”, sem grande dificuldade e sem que ela ache que tem um pai “atrasado”, coisa que não sou. Mas creio que há limites para tudo. Passei anos pagando escola que ensinava empreendedorismo a ela e não vou desperdiçar este tempo e dinheiro com um jogo. Vou ficar ouvindo Nuno Markl e seu “Caderneta de Cromos”, lembrando das brincadeiras de infância, menos destruidoras de caráter e ver se a OMS acaba logo com esta febre antes que vire epidemia.

Um comentário:

Cristina disse...

Tudo muitoooooo estranho. É por coisas assim que vou desistindo lentamente das redes sociais. O Orkut foi a primeira desistência.

Fiquei agradada ao vê-lo gostar dessa forma da "Caderneta de Cromos". O conceito é exactamente relembrar coisas que se tornaram míticas durante os anos 70 e 80. Talvez até nesta área Portugal e Brasil possam ter algumas afinidades :)

Ahhhh... e último nome do Nuno é Markl, de origem alemã.